Insistência de Carlos Bolsonaro em SC favorece Tarcísio e escanteia Flávio, avalia Centrão

Atualizado em 21 de dezembro de 2025 às 21:40
Carlos Bolsonaro, ex-vereador do Rio de Janeiro. Foto: Adriano Machado/Reuters

A decisão de manter a candidatura de Carlos Bolsonaro (PL) ao Senado por Santa Catarina, mesmo com a abertura de espaço no Rio de Janeiro após Flávio Bolsonaro (PL-RJ) anunciar pré-candidatura à Presidência, é vista por integrantes do centrão como um movimento que enfraquece o projeto nacional do filho mais velho do ex-presidente e abre caminho para o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Com informações da Folha de S.Paulo.

Na avaliação desse grupo, o cenário natural seria Carlos disputar o Senado pelo Rio, na vaga deixada por Flávio, o que ajudaria a organizar o tabuleiro eleitoral da família Bolsonaro. A insistência na candidatura catarinense, porém, é interpretada como sinal de que a postulação de Flávio ao Planalto pode ser retirada mais adiante para apoiar um nome com maior viabilidade eleitoral contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Flávio era apontado como favorito à reeleição ao Senado, o que levou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a traçar a estratégia de transferir Carlos para Santa Catarina, com o objetivo de ampliar a presença da família na Casa e reunir aliados para pressionar o STF contra sua condenação na trama golpista. Em 5 de novembro, Flávio anunciou que havia sido escolhido pelo pai como candidato ao Planalto, com “a missão de dar continuidade ao nosso projeto de nação”.

senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) sério, em pé, olhando levemente para o lado esquerdo da foto
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) – Reprodução

Seis dias depois, Carlos renunciou ao mandato de vereador no Rio e transferiu o título eleitoral para São José, na região metropolitana de Florianópolis, apesar da disputa interna na direita local. Ao deixar o cargo, afirmou que ama o Rio, mas parte “com a serenidade de quem sabe que está atendendo a uma missão maior”. “Não é uma fuga, é a continuidade de uma luta”, disse na tribuna da Câmara Municipal.

Santa Catarina é considerada um reduto bolsonarista. Em 2022, Jair Bolsonaro obteve 69,3% dos votos válidos no segundo turno, contra 30,7% de Lula. Em 2024, outro filho do ex-presidente, Jair Renan, foi eleito vereador em Balneário Camboriú. Aliados de Carlos afirmam que a candidatura é irreversível e que ele já mora no estado, onde mantém vínculos pessoais e tem participado de eventos políticos.

A mudança, no entanto, provocou racha na direita catarinense. O governador Jorginho Mello (PL) defendia a reeleição de Esperidião Amin (PP) e a candidatura da deputada Caroline De Toni (PL), mas terá de ceder uma das duas vagas ao Senado a Carlos em 2026. A possível exclusão de De Toni gerou incômodo no PL e ameaça de rompimento da federação entre PP e União Brasil com o governo estadual.

Aliados de Carlos rejeitam a leitura do centrão e afirmam que a decisão não está ligada à disputa presidencial. Em entrevista à CBN, Flávio Bolsonaro disse que o movimento do irmão já estava definido. “Carlos tem esse sonho de Santa Catarina, ele ama aquele estado, ele vive lá há vários e vários anos”, afirmou.

Bolsonaristas também argumentam que o Senado no Rio está mais congestionado, com possíveis candidaturas do governador Cláudio Castro (PL), do líder do PL no Senado, Carlos Portinho, além de Sóstenes Cavalcante, Altineu Cortes, Hélio Lopes e Carlos Jordy. Procurados, Carlos e Flávio não responderam à reportagem.

Sofia Carnavalli
Sofia Carnavalli é jornalista formada pela Cásper Líbero e colaboradora do DCM desde 2024.