
As ações da Alpargatas, controladora da Havaianas, perderam cerca de R$ 200 milhões em valor de mercado após a repercussão de um novo comercial da marca e o início de um boicote incentivado por políticos bolsonaristas.
Por volta das 16h53 desta segunda-feira, os papéis da Alpargatas (ALPA4) recuavam 2,56%, negociados a R$ 11,42. Mais cedo, às 16h20, a queda chegou a 3,41%. A desvalorização reduziu em cerca de R$ 200 milhões o valor de mercado da empresa.
A queda ocorreu após a divulgação da propaganda estrelada por Fernanda Torres, acusada por conservadores de conter uma suposta indireta política.
No vídeo, a atriz diz não querer que o público comece o ano com o “pé direito”, sugerindo começar “com os dois pés”, frase que foi interpretada por bolsonaristas como provocação política.
“Desculpa, mas eu não quero que você comece 2026 com o pé direito. Não é nada contra a sorte, mas vamos combinar: sorte não depende de você, depende de sorte. O que eu desejo é que você comece o ano novo com os dois pés. Os dois pés na porta, os dois pés na estrada, os dois pés na jaca, os dois pés onde você quiser. Vai com tudo, de corpo e alma, da cabeça aos pés. Havaianas, todo mundo usa, todo mundo ama”, diz Fernanda no comercial.
tavam falando tanto do comercial da havaianas q eu achei q sla a fernanda torres tava td de vermelho cm o hino da união soviética tocando de fundo e queimando a bandeira dos eua com a mão esquerda
ai fui ver e é literalmente só isso aq, tipo NAO TEM NADApic.twitter.com/NWe47bp7E2
— carol. jurídico luke hemmings frat boy era.❤️🔥 (@fckhst) December 22, 2025
Boicote incentivado por bolsonaristas
Após a divulgação do vídeo, políticos de direita passaram a pedir boicote à Havaianas. Cassado por ultrapassar o limite de faltas na Câmara, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) publicou um vídeo jogando um par de chinelos no lixo.
“Eu achava que isso aqui era um símbolo nacional. Já vi muito gringo com essa bandeirinha do Brasil no pé, só que eu me enganei”, disse ele, antes de classificar Fernanda Torres como alguém “declaradamente de esquerda”.
O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) também ironizou a marca com um trocadilho: “Havaianas, nem todo mundo agora vai usar”.
Outros parlamentares bolsonaristas se somaram às críticas. O vereador Gilson Machado Filho (PL-PE) afirmou que começaria 2026 com o “pé direito em outra marca”, enquanto o deputado Luiz Lima (NOVO-RJ) declarou que “publicidade é escolha e consumo também”.
Donos da Ipanema, rival das Havaianas, doaram R$ 2 milhões a Bolsonaro
Os irmãos Alexandre Grendene Bartelle e Pedro Grendene Bartelle estão entre os fundadores da companhia. Alexandre detém 44,14% das ações, enquanto Pedro possui 13,89%. Segundo registros do DivulgaCand, sistema da Justiça Eleitoral, ambos doaram R$ 1 milhão cada para a campanha de Bolsonaro em 2022, totalizando R$ 2 milhões.
Em 2018, quando Bolsonaro disputou a Presidência pela primeira vez, os dois também contribuíram financeiramente, embora em valores bem menores. Naquele ano, cada um doou R$ 3 mil à campanha.
