
É complicada, mas não é irreversível, a situação da jornalista Malu Gaspar. É complicada porque a jornalista informou que Alexandre de Moraes se encontrou com o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, para fazer lobby em favor do Banco Master. Mas não tem provas, e Moraes e Galípolo já disseram que não é nada disso.
É uma denúncia grave, que saiu em notinha da coluna da jornalista do Globo e foi reproduzida por Folha e Estadão. Seria mais um foguetinho com mais uma intriga, se não mexesse com o mais poderoso ministro do Supremo.
Malu Gaspar deu detalhes ontem na sua coluna. Moraes procurou o presidente do BC “pelo menos quatro vezes para fazer pressão em favor do Banco Master”. E acrescentou: “Ao menos três dos contatos foram por telefone, mas pelo menos uma vez Moraes se encontrou presencialmente com Galípolo para conversar sobre os problemas do banco de Daniel Vorcaro”.
Malu credita as informações, com essas imprecisões de pelo menos e ao menos, a seis fontes diferentes que falaram com jornalistas da equipe do blog. “Uma delas ouviu do próprio ministro sobre o encontro com Galípolo, e as outras cinco souberam dos contatos por integrantes do BC”.
Os detalhes, como recomendam os manuais do jornalismo, estão presentes para dar verossimilhança ao que é contado. E o detalhe mais importante é o que cita seis fontes. Uma, duas, três, quatro, cinco, seis fontes. Sem nomes.
Não é pouca coisa para uma informação em off, em que os informantes não aparecem. Não é pouca coisa tratando-se de Alexandre de Moraes e do caso Master.
Malu Gaspar precisa revelar suas fontes? Não. Fontes são protegidas, mesmo sem identificação, ou o jornalismo investigativo não existiria.
Mas ela precisa tomar algumas providências, a partir da nota de Moraes e do Banco Central que desmentem o que ela escreveu. Precisa buscar provas.
As notas, emitidas hoje, dizem que o ministro tratou nas conversas com Galípolo das sanções que sofria pela Lei Magnitsky de Trump.
Malu precisa muito mais do que dar coerência ao que informou, com acréscimo de detalhes que mostrem o encadeamento dos fatos, horários e detalhes das falas. Precisa provar.
Como conseguir as provas? Com as suas fontes ou com novas fontes. São seis fontes. Uma delas, segundo a jornalista, teria ouvido a história do lobby de Moraes do próprio ministro.

Malu Gaspar viu, no julgamento dos golpistas, como Moraes lidou com as informações que desvendaram o golpe. Uma informação levava a outra, um personagem tinha conexão com outros, por fatos, falas, registros no celular, documentos.
Toda a estrutura e os mecanismos do golpe têm evidências que levaram às provas. É assim que funciona. Malu Gaspar terá que procurar as fontes, ou pedir a seus jornalistas que as procurem, para saber quem se dispõe a falar.
E quem falar, assegurando que ouviu dizer que Moraes fez lobby pelo banco, terá que levar a Malu as provas. Algumas dessas fontes teriam ouvido gente de dentro do BC.
Não tem outro jeito. O episódio oferece ao jornalismo, e à colunista da Globo em particular, a chance de provar que Moraes era lobista. Mas a situação atual é esta: sem provas, nada feito.
Imaginemos o que acontece agora na redação do Globo, para que uma informação dada como verdade não fique para sempre como intriga.
Imaginemos repórteres de campo tendo que se mobilizar e ir à luta para salvar o jornalismo de gabinete do colunismo das notinhas com fontes encobertas.
Até agora, em meio às dúvidas, está tudo em aberto. Moraes deve saber que o Globo irá acionar repórteres em força-tarefa, para que a acusação de Malu Gaspar seja provada.
É uma guerra pesada. Porque, ao contrário do que disseram colegas da colunista, entre os quais o imortal Merval Pereira, Alexandre de Moraes, o acusado, não deve provar nada da acusação sem provas.
Merval escreveu que Moraes precisa provar. Mas provar o quê? O ônus das provas é de Malu Gaspar e do Globo. É ruim a situação da jornalista, mas é óbvio que ela pode se salvar, se fizer o que aprendeu até aqui – não com Merval, é claro.
(A foto que ilustra esse texto segue o modelo de retratos de mafiosos. Sergio Moro, sentado ao centro, é cercado como um chefão e bajulado pelos entrevistadores da bancada do Roda Viva, da TV Cultura, que o trataram como ídolo, em janeiro de 2020. Todos são jornalistas. Essa foto é constrangedora como ostentação da idolatria por um farsante. É a subserviência de jornalistas a um sujeito que, já naquela época, tinha provas contra si de que trabalhava para o fascismo para pegar Lula. Essa foto mostra como Malu Gaspar, de blusa laranja, cedeu às bajulações ao lavajatismo, com outros colegas de bancada e de jornal. Essa imagem é uma prova.)