Perda de posto e patente prevista para 2026: o golpista mais queimado entre militares

Atualizado em 26 de dezembro de 2025 às 11:03
Walter Braga Netto, general da Reserva. Foto: reprodução

O general da reserva Walter Braga Netto, ex-candidato à vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro, corre o risco de perder o posto e a patente em julgamento previsto para ocorrer no Superior Tribunal Militar (STM) no próximo ano. Condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no processo que apurou a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022, Braga Netto é apontado por oficiais da ativa e da reserva como o militar mais desgastado internamente entre os envolvidos nos atos golpistas.

Segundo Vera Rosa, do Estadão, integrantes das Forças Armadas afirmam que o ex-ministro da Defesa e da Casa Civil “queimou” seu prestígio na caserna ao incentivar ataques diretos à cúpula militar que se recusou a aderir ao plano para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Para esses oficiais, a postura de Braga Netto rompeu um dos pilares mais sensíveis da hierarquia militar: o respeito à cadeia de comando.

General de quatro estrelas e candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro em 2022, Braga Netto completou neste mês um ano de prisão. Desde dezembro de 2024, ele está detido na 1ª Divisão do Exército, no Rio de Janeiro, estado onde já atuou como interventor federal na segurança pública durante o governo de Michel Temer (MDB).

Inicialmente, a prisão teve caráter preventivo, sob acusação de tentativa de obstrução das investigações. Com a condenação definitiva pelo STF a 26 anos de prisão em regime fechado, a detenção passou a ter natureza penal.

Durante a apuração conduzida pela Polícia Federal, vieram à tona mensagens trocadas por Braga Netto que reforçaram a gravidade das acusações. Em um dos diálogos, o general estimulava uma ofensiva contra o então comandante do Exército, Freire Gomes, que se recusou a apoiar a ruptura institucional. Segundo as investigações, Braga Netto chegou a afirmar que a cabeça de Freire Gomes deveria ser oferecida “aos leões”.

Jair Bolsonaro e Braga Netto. Foto: Pablo Jacob/Agência O Globo

Em outra conversa, o ex-ministro se referiu ao comandante como “cagão”, em um tom considerado inaceitável dentro das Forças Armadas. As diligências também apontaram que ele pediu a um coronel para atacar publicamente o então comandante da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Júnior, por este não ter aderido à tentativa de golpe.

No dia 15 de dezembro de 2022, quando Jair Bolsonaro já havia sido derrotado nas urnas, Braga Netto orientou o coronel reformado Ailton Barros a intensificar os ataques virtuais contra Baptista Júnior. Naquele período, apoiadores do ex-presidente ainda mantinham acampamentos em frente a quartéis, contestando o resultado eleitoral.

“Senta o pau no Batista Júnior. Povo sofrendo, arbitrariedades sendo feita (sic) e ele fechado nas mordomias. Negociando favores. Traidor da pátria. Daí para frente. Inferniza a vida dele e da família”, escreveu Braga Netto em uma das mensagens analisadas pela Polícia Federal.

Na mesma troca, o general também orientou Ailton Barros a elogiar o então comandante da Marinha, Almir Garnier. Em setembro, a Primeira Turma do STF concluiu que Garnier participou da organização responsável pela tentativa de ruptura democrática e o condenou a 24 anos de prisão

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.