Fake news de Emílio Surita, da a Jovem Pan, visa favorecer Flávio Bolsonaro, seu candidato

Atualizado em 29 de dezembro de 2025 às 20:12
Emílio Surita no programa Pânico, da Jovem Pan. Foto: Johnny Drum/Jovem Pan

A mentira espalhada pelo programa Pânico, da Jovem Pan, sobre uma suposta taxação de transações financeiras acima de R$ 5 mil não surgiu por acaso nem é um simples erro jornalístico. Trata-se de uma fake news reciclada, com objetivo político claro, que acabou funcionando como peça de campanha antecipada em favor de Flávio Bolsonaro, impulsionada por figuras centrais da emissora, como Emílio Surita.

A história é conhecida. No início do ano, a Receita Federal publicou uma portaria técnica para padronizar a forma como bancos, fintechs e administradoras de cartão informam movimentações financeiras. A medida buscava melhorar a fiscalização contra sonegação e facilitar o uso da declaração pré-preenchida do Imposto de Renda. Mesmo assim, bolsonaristas passaram a espalhar a mentira de que transações via Pix acima de R$ 5 mil seriam taxadas. Diante da onda de desinformação, o governo acabou revogando a norma em janeiro.

Em agosto, a Receita voltou ao tema com outra norma, estabelecendo que fintechs e instituições semelhantes passassem a informar movimentações acima desse valor, algo que já era exigido dos bancos tradicionais. A mudança ocorreu depois da Operação Carbono, que revelou o uso dessas plataformas para lavagem de dinheiro, aproveitando brechas legais. A regra não cria imposto, não cobra taxa alguma e não quebra sigilo bancário. Serve apenas para cruzamento de dados, permitindo identificar indícios de sonegação ou crimes financeiros. Movimentar valores acima do limite não gera cobrança automática de imposto.

Mesmo assim, a fake news voltou a circular. Desta vez, com mais agressividade. A versão reciclada afirmava que, a partir de 1º de janeiro de 2026, transações via Pix acima de R$ 5 mil pagariam 27,5% de Imposto de Renda, com multas de 75% para quem não recolhesse o valor e de 150% para supostos sonegadores. Tudo inventado. A Constituição proíbe a tributação de movimentações financeiras, fato básico que qualquer comunicador sério deveria conhecer.

A mentira ganhou tração após o governo sancionar a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. A Receita Federal precisou publicar nota oficial para desmentir o boato. Ainda assim, no dia 2 de dezembro, o Pânico levou a história falsa ao ar, espalhando medo e confusão entre ouvintes. Só agora, no dia 29, a Jovem Pan admitiu que a “suposta taxação não existe e nem seria viável de acordo com a lei” e retirou o programa do ar.

O estrago, porém, já estava feito. O conteúdo viralizou em grupos bolsonaristas e passou a ser usado como munição política contra o governo. Não é ingenuidade enxergar nisso um movimento calculado. Emílio Surita sabe o alcance que tem e sabe exatamente para onde fala. Ao repetir uma mentira já desmentida, ajudou a alimentar um clima de pânico fiscal que interessa diretamente ao bolsonarismo e à construção da narrativa eleitoral de Flávio Bolsonaro.

É inaceitável que um veículo de comunicação use sua concessão pública para espalhar desinformação deliberada. A Jovem Pan voltou a cumprir um papel que já conhecemos: atacar o governo com mentiras e agir como braço informal de um campo político. O erro não é recente. O erro foi o Estado brasileiro não ter cassado a concessão da emissora quando ela apoiou, sem disfarces, um projeto de ruptura institucional e um golpe de Estado.

Democracia não convive com rádio e TV transformadas em fábricas de fake news. Responsabilidade com a informação não é opcional. Quando um comunicador escolhe mentir, sabendo que a mentira já circulou antes e já foi desmentida, não há engano: há intenção. E, neste caso, há campanha política disfarçada de entretenimento.