PF ouve dono do Master, ex-presidente do BRB e diretor do BC antes de decidir sobre acareação

Atualizado em 30 de dezembro de 2025 às 6:57
Fachada do Banco Master. Foto: reprodução

A Polícia Federal vai ouvir nesta terça-feira (30), a partir das 14h, três personagens centrais das investigações sobre suspeitas de fraudes envolvendo o Banco Master. Estão convocados para prestar depoimento o dono da instituição, Daniel Vorcaro, o ex-presidente do Banco de Brasília (BRB), Paulo Henrique Costa, e o diretor de Fiscalização do Banco Central, Ailton de Aquino Santos. As oitivas poderão ocorrer de forma presencial ou por videoconferência e, ao final, caberá à delegada responsável decidir se haverá necessidade de acareação entre os envolvidos.

Inicialmente, a acareação havia sido determinada de ofício pelo ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), que assumiu a condução do inquérito após a remessa do caso da Justiça Federal de Brasília à Corte. A decisão gerou críticas de investigadores e de integrantes do Banco Central, o que levou o STF a esclarecer, na segunda-feira (29), que a palavra final sobre a eventual confrontação de versões caberá à Polícia Federal. O procedimento será acompanhado por um juiz auxiliar do gabinete de Toffoli.

Na semana passada, o ministro rejeitou um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) para cancelar a acareação. Em manifestação posterior, afirmou que Ailton de Aquino não é investigado formalmente, embora tenha ressaltado que a apuração “tange a atuação da autoridade reguladora nacional”.

O departamento jurídico do Banco Central chegou a sustentar que o procedimento poderia representar “constrangimento de entidades públicas”, mas a audiência foi mantida.

Os depoimentos se inserem no contexto da tentativa de venda do Banco Master ao BRB, estatal do governo do Distrito Federal, operação anunciada em 2025 e barrada pelo Banco Central em setembro do mesmo ano. Dois meses depois, Vorcaro foi preso e, em seguida, o BC decretou a liquidação extrajudicial do Master diante de indícios de operações fraudulentas que somariam cerca de R$ 12 bilhões.

Daniel Vorcaro, dono do Banco Master. Foto: reprodução

As investigações apontam que, durante o processo de análise da operação com o BRB, a diretoria de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução do BC identificou fraudes em contratos de crédito consignado que teriam avalizado o repasse de R$ 12,2 bilhões do banco estatal para o Master, antes mesmo de qualquer fusão.

A descoberta aprofundou um racha interno na autarquia. De um lado, a área comandada por Renato Dias de Brito Gomes defendia uma intervenção imediata; de outro, a diretoria de Fiscalização, chefiada por Ailton de Aquino, buscava alternativas para manter o banco em funcionamento.

Registros do Fundo Garantidor de Crédito indicam que houve ao menos 38 alertas formais sobre problemas de liquidez e inconsistências contábeis no Master, a maioria direcionada à área de fiscalização. Pessoas que participaram de reuniões relatam que os riscos eram frequentemente minimizados, enquanto a situação da instituição se deteriorava.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.