
As Polícias Civil e Federal procuram Ciro César Lemos, de 48 anos, e a esposa dele, Elidiane Saldanha Lopes Lemos, de 43, apontados como “laranjas” de uma transportadora de veículos ligada à cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC). O casal é considerado foragido e tem mandados de prisão em aberto registrados no Banco Nacional de Medidas Penais e Prisões, do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Segundo a Polícia Civil, Ciro e Elidiane atuavam diretamente com a liderança máxima da facção criminosa. Ambos foram condenados por lavagem de dinheiro pela 3ª Vara Criminal de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo. Ela recebeu pena de nove anos e três meses de prisão, enquanto ele foi condenado a 12 anos e três meses.
De acordo com a investigação, o casal teria lavado R$ 23,7 milhões para o PCC por meio da empresa Lopes Lemos Transportes. Apesar do volume de recursos movimentados, Ela declarava oficialmente ser de baixa renda e chegou a informar que era beneficiária do programa Bolsa Família, voltado a famílias em situação de pobreza.
A Justiça determinou ainda o perdimento de todos os bens adquiridos em nome dos dois, incluindo dezenas de caminhões, terrenos e imóveis. O processo transitou em julgado em setembro deste ano, encerrando a possibilidade de novos recursos.
A prisão preventiva de ambos foi decretada em 10 de abril de 2022. Ciro, ex-presidiário, já havia sido condenado anteriormente por tráfico de drogas e associação ao tráfico. Segundo o Ministério Público do Estado de São Paulo, ele cumpriu pena ao lado de integrantes do PCC.

A transportadora do casal funcionava nas proximidades da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, unidade que abrigou a alta cúpula da facção até fevereiro de 2019, quando os líderes foram transferidos para presídios federais. Para o Ministério Público, a empresa foi criada como instrumento para lavar dinheiro do tráfico e, eventualmente, para uso dos veículos em uma possível tentativa de resgate de presos.
O MP-SP apurou que a transportadora foi constituída em 2015 com capital social de R$ 300 mil. Em outubro de 2019, esse valor já havia saltado para R$ 3,6 milhões. Em maio de 2020, Elidiane deixou formalmente a sociedade, e o capital passou a ser integralmente atribuído a Ciro.
Entre 2015 e 2019, as investigações apontam que Ciro movimentou R$ 2,3 milhões, Elidiane R$ 1 milhão, e a empresa cerca de R$ 20 milhões. A frota chegou a 56 veículos, incluindo caminhões, tratores, semirreboques, carros e caminhonetes de luxo.
O caso começou a ser desvendado em julho de 2019, após a apreensão de um bilhete com dois presos da Penitenciária 2. As mensagens citavam planos de atentados contra autoridades do sistema prisional. Um dos trechos dizia que “aquela mulher da transportadora” estaria levantando endereços de servidores “marcados para morrer”.
A partir desse material, os serviços de inteligência chegaram ao nome da transportadora e do casal. As apurações também revelaram que Ciro esteve preso em Presidente Bernardes, em 2006, junto com integrantes da cúpula do PCC.