Em acareação, Vorcaro diz que falava com os “3 poderes”; contrato com mulher de Moraes não foi citado

Atualizado em 31 de dezembro de 2025 às 7:49
Fachada do Banco Master. Foto: reprodução

Os três principais personagens do caso Banco Master prestaram depoimento na última terça-feira (30) no Supremo Tribunal Federal (STF), em uma audiência conduzida pela Polícia Federal dentro das dependências da Corte. Foram ouvidos o fundador do banco, Daniel Vorcaro, o ex-presidente do Banco de Brasília (BRB), Paulo Henrique Costa, e o diretor de Fiscalização do Banco Central, Ailton de Aquino Santos. Com informações do Poder 360.

Questionado sobre contatos com autoridades, Vorcaro afirmou que mantinha diálogo com integrantes “dos Três Poderes”, mas negou tratar de assuntos relacionados ao Banco Master. O contrato firmado entre o banco e a advogada Viviane Barci de Moraes, que previa pagamentos mensais superiores a R$ 3,6 milhões, não foi abordado nos depoimentos, após a Procuradoria-Geral da República arquivar pedido de investigação sobre o tema.

A oitiva foi determinada pelo ministro Dias Toffoli, relator do inquérito que investiga suspeitas de fraudes bilionárias envolvendo a instituição financeira.

Os depoimentos ocorreram sob sigilo, com registro em áudio e vídeo, e foram acompanhados remotamente pelo ministro. Inicialmente, a previsão era de que os três fossem submetidos a uma acareação. No entanto, apenas Vorcaro e Paulo Henrique Costa acabaram confrontados.

Ailton de Aquino foi dispensado do procedimento por decisão da Polícia Federal, após manifestação do Banco Central contrária a qualquer medida que pudesse constranger a autoridade monetária. Toffoli concordou com a condução adotada.

Durante as oitivas, a delegada Janaina Palazzo concentrou os questionamentos nas circunstâncias que envolveram a tentativa de venda do Banco Master ao BRB, anunciada em março de 2025. Na ocasião, o banco estatal do Distrito Federal adquiriu parte da carteira de crédito consignado do Master, antes mesmo de eventual incorporação. Posteriormente, investigações apontaram que esses créditos eram inconsistentes, sem lastro e, em alguns casos, fabricados.

Ailton de Aquino Santos, Daniel Vorcaro e Paulo Henrique. Foto: reprodução

Vorcaro afirmou em depoimento que os recursos recebidos do BRB teriam ficado à disposição para devolução, caso fosse necessário. Paulo Henrique Costa apresentou versão diferente, dizendo que o dinheiro não foi devolvido e que houve apenas a substituição da carteira por outra, que também se mostrou sem liquidez. As divergências chamaram a atenção dos investigadores.

O fundador do Master também foi questionado sobre a origem de carteiras de crédito adquiridas de empresas como Tirreno e Cartos, posteriormente classificadas como irregulares pelo Banco Central. Vorcaro disse desconhecer problemas de liquidez e afirmou não se lembrar de que um ex-funcionário do próprio banco havia assumido o controle de uma dessas empresas meses antes da operação.

O banqueiro indicou não ter intenção de firmar acordo de delação. Seu advogado, Roberto Podval, pediu que a Polícia Federal descarte do inquérito conversas e arquivos pessoais extraídos do celular do banqueiro que não tenham relação direta com a investigação, alegando a existência de conteúdos sensíveis.

Também ficou fora da audiência qualquer discussão sobre eventual reversão da liquidação extrajudicial do Banco Master, decretada pelo Banco Central em novembro de 2025. Segundo a apuração, Toffoli não demonstrou intenção de questionar a decisão da autoridade monetária.

No depoimento de Paulo Henrique Costa, a delegada apresentou uma anotação apreendida em busca e apreensão, com a frase “Temos de fazer isso antes que o Master quebre”. O ex-presidente do BRB disse desconhecer a origem da anotação e sustentou que o interesse do banco estatal era ampliar sua área de atuação.

Alertas enviados por entidades do sistema financeiro ao Banco Central sobre fragilidades do Master também foram mencionados a Vorcaro, que afirmou não ter conhecimento dessas comunicações, por não serem dirigidas a ele. O diretor do BC, Ailton de Aquino, não foi questionado sobre o tema.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.