Colunista do Globo chama Moraes de capanga e o acusa de fazer lobby pelo Banco Master

Atualizado em 31 de dezembro de 2025 às 12:30
O ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. Foto: Evaristo Sá/AFP

Um artigo do jornal O Globo assinado por Idelber Avelar, colunista e professor da Universidade Tulane, chama o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de “capanga” e elogia a jornalista Malu Gaspar. Ela foi responsável por reportagem que acusa o magistrado de se reunir com Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central, para ajudar o Master, chefiado por Daniel Vorcaro. 

Ele afirma que Malu está sendo “execrada pelo grupo político que antes a citava”, mas que “todos sabem que ela relata a verdade”. O professor ainda diz que Moraes tem “caráter autoritário”, que “a megalomania do juiz prosperou” e que o magistrado “normalizou a censura prévia”.

O colunista dobra a aposta de Malu e diz que “o juiz fez lobby pelo banco junto ao presidente do Banco Central “e afirma que a informação é “cristalina”.

Em 2014, vieram a público acusações de assédio contra Avelar, após a divulgação de conversas privadas nas redes sociais. As denúncias citavam envio de conteúdo de teor sexual sem consentimento e mensagens consideradas invasivas; ele negou as acusações, disse que os diálogos eram consensuais e atribuiu o episódio a uma campanha de difamação.

Idelber Avelar, professor de estudos latino-americanos na Universidade de Tulane, em Nova Orleans (EUA). Foto: Divulgação

Leia trechos:

O juiz e a jornalista são as mesmas pessoas que sempre foram. Ele é da linhagem capanga, prometendo, com enxada, erradicar do continente uma planta que a humanidade usa há 5 mil anos. Quem se lembra dos massacres policiais em São Paulo em 2013 sabe quem é ele.

A jornalista também sempre foi a mesma. Autora de livros que destrincham o funcionamento do capitalismo das empreiteiras, ela é hoje execrada pelo grupo político que antes a citava. O motivo é o de sempre: todos sabem que ela relata a verdade.

Como o juiz deveras foi firme em seu repúdio à tentativa de golpe, e como no Brasil não aceitamos a ideia de que a personalidade estatal possa cumprir sua função sem que se instale uma dinâmica sebastianista de crédito infinito, a megalomania do juiz prosperou.

(…) O Sebastião da Suprema Corte normalizou a censura prévia, expulsou cidadãos das redes sociais sem o devido processo legal, bloqueou plataformas no país inteiro, violou o princípio do juiz natural, rompeu com o pilar mais básico do Direito Penal, a responsabilidade pessoal (você só é culpado pelo que fez) e conduz um inquérito de fim do mundo em que é simultaneamente juiz, procurador e vítima de um crime indeterminado e sem data (fake news). Enquanto isso, dá-lhe convescote patrocinado por entidade privada que o juiz pode vir a ter de julgar amanhã.

É nesse contexto que a jornalista publicou seus achados. O escritório da esposa do juiz assinou um contrato para receber ao redor de R$ 130 milhões, em pagamentos mensais de R$ 3,6 milhões, o que é honorário advocatício irrealista até em Mônaco. A tarefa era atuar em processo nenhum, em nenhum litígio nomeado, mas representar os interesses do banco no Judiciário, inclusive ali na Suprema Corte em que atua seu marido.

(…) Sabe-se onde estará a jornalista amanhã: fazendo seu trabalho com o rigor de sempre. Também sabemos onde estará o servo: credibilizando ou descredibilizando os achados do jornalismo segundo a conveniência da força política a que serve.

O juiz, apesar do poder de sua posição, é de futuro mais incerto. A ruptura com o devido processo legal sói voltar, como um escorpião, para cravar o ferrão naqueles que a desataram.