Aos poucos, o prefeito de São Paulo João Doria vai revelando uma faceta que estava parcialmente escondida sob o botox e o marketing: o autoritarismo e a dificuldade em lidar com o contraditório.
Durante o Carnaval, numa visita em Pinheiros, chamou um folião para a briga. Xingou-o de “Lula”, personagem pelo qual nutre uma fixação mental e oral estranha, e foi contido por assessores, que o meteram no carro oficial.
Agora ele perdeu a cabeça numa entrevista com três repórteres do Valor, Cristiane Agostine, Ricardo Mendonça e Maria Cristina Fernandes.
Acostumado à sabujice da mídia, Doria não conseguiu se controlar diante de perguntas que precisavam ser feitas com relação à desfaçatez com que ele trata a coisa pública.
Foi questionado sobre o ridículo merchan que fez das vitaminas de um amigo dono da Ultrafarma, patrocinador de sua empresa, numa reunião com secretários. A coisa foi toda filmada pela equipe de Doria.
Ele aparece recomendando os produtos com um papo vagabundo de camelô. No final, seu vice, o boboca Bruno Covas, faz um patético joinha no pior estilo “eu recomendo”.
Doria, no entanto, não admite qualquer questionamento sobre as palhaçadas. Transcrevo um trecho da reportagem do Valor:
Valor: O sr. gravou e divulgou vídeo em rede social que causou polêmica, aquele em que faz propaganda da Ultrafarma num ambiente público, ao lado dos secretários…
Doria: Não citei a Ultrafarma, apenas as vitaminas. Que mal tem isso?
Valor: Não tem um conflito de interesse, o senhor mostrando as marcas, os medicamentos?
Doria: Qual é o conflito de interesse?
Valor: A Ultrafarma é patrocinadora do Lide [Grupo de Líderes Empresariais, empresa fundada por Doria e hoje controlada por seu filho] e o sr. está fazendo propaganda num ambiente público…
Doria: A empresa está fazendo doação, não tem dinheiro público. Não estamos gastando um centavo com eles. A vitamina é o de menos, eles estão fazendo uma ampla doação de medicamentos dentro desse programa. Qual é o mal? Não tem conflito de interesse [O prefeito eleva o tom de voz e ameaça encerrar a entrevista].
No Sambódromo, após JD ser mandado tomar no c…, seus estafetas declararam que aquilo era coisa de “maloqueiros”. Bobagem culpa-los totalmente pela ignorância. Estão imitando e tentando proteger um populista truculento e mimado.