Um caso de mitomania: com o país parado, Temer diz que sociedade apoia reformas. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 15 de março de 2017 às 16:54
Mitômano
Mitômano

 

Nos últimos meses, a imprensa americana vem especulando sobre o estado mental de Donald Trump.

Psiquiatras e psicólogos diagnosticaram o líder americano como portador de transtorno de personalidade narcisista, entre outras coisas.

Um professor de Harvard defendeu no New York Times que “a grave instabilidade emocional” de Trump o torna “incapaz de servir de maneira segura como presidente”.

Os profissionais da área no Brasil não se dispuseram a estudar o caso de Michel Temer profundamente, mas não seria surpresa se fosse encontrada alguma patologia.

Nesta quarta, dia 15, enquanto o Brasil inteiro parava por causa de protestos contra suas reformas, com a greve geral nas maiores cidades, o noticiário tomado pelas paralisações, Temer se reuniu com empresários e servidores para falar da reforma da Previdência.

A alturas tantas, para consternação geral dos presentes, cravou: “A sociedade brasileira, pouco a pouco, vai entendendo que é preciso dar apoio a este caminho para colocar o país nos trilhos”.

Reconheceu que proposta original poderá ter “uma ou outra adaptação” na Câmara, mas ela é necessária porque, senão, “daqui a quatro e cinco anos temos de fazer como Portugal, Espanha e Grécia, que tiveram de fazer um corte muito maior”.

Ao final, insistiu naquele mantra inventando por Nizan Guanaes num lanche da tarde no Planalto, segundo o qual ele deveria aproveitar sua “impopularidade”. Nizan, na ocasião, quase o chamou de um paspalho útil.

“Com toda franqueza, tenho seguidamente feito uma distinção entre medidas populistas e populares. As medidas populistas são feitas de maneira irresponsável. Elas têm efeito imediato, cheio de aplausos, para logo depois revelar-se um desastre a absoluto. As medidas populares não têm o aplauso imediato, mas têm o reconhecimento posterior”, falou.

O cinismo já não serve mais para explicar os atos de Michel. A burrice tampouco. A pusilanimidade não dá conta.

Temer vive em um ciclo de mentiras que poderia colocá-lo na condição clínica de mitômano.

“A pessoa cria situações falsas, vivencia a mentira, cria uma realidade paralela e acredita nela”, define o mestre e doutorando do departamento de psiquiatria da Unifesp, Adriano Resende Lima.

Ao contrário do esquizofrênico, quem padece de mitomania se sente confortável e realizado com o mundo que criou. O sofrimento é de quem convive com o doente.

Temer não passaria no psicotécnico de auto escola, embora tenha uma enorme habilidade específica para negociatas nas sombras. Como Trump, Temer é incapaz de servir de maneira segura como presidente.

As vítimas do embusteiro, plenas de razão, estão nas ruas e delas não sairão.

Kiko Nogueira
Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.