A greve geral terminou em grande estilo: gás e bala em jornalistas na porta de Temer. Por Pedro Zambarda

Atualizado em 29 de abril de 2017 às 14:04

Pouco antes das 20h de sexta-feira (28), a mobilização da Frente Povo Sem Medo chegou até a frente do bloqueio da mansão do presidente Michel Temer.

Por praticamente 20 minutos, houve provocações e palavras de ordem. As pessoas queriam chegar mais perto e a Tropa de Choque já estava posicionada para impedir o avanço.

No centro da rua, colados no bloqueio, estavam os manifestantes. À esquerda e à direita estavam os repórteres. Os Jornalistas Livres estavam fazendo transmissão ao vivo e uma jornalista do SBT tentava fazer uma entrada.

A repórter de TV foi hostilizada, chamada de “golpista”, “adoradora de Sheherazade” e “bajuladora do Silvio Santos”.

Mais cedo, por volta das 17h, os manifestantes mandaram o repórter José Roberto Burnier, da TV Globo, ir embora do Largo da Batata.

No dia anterior, o Jornal Nacional não deu uma notícia sobre a greve geral. No didia das mobilizações que mexeram com o Brasil, a Globo só falou de vandalismo e do “drama” de quem não conseguiu ir trabalhar.

No momento que os policiais começaram a atirar bombas de gás lacrimogêneo para dispersar a multidão, miraram no canto direito, onde eu estava, e acertaram o meu tórax e meu cotovelo.

A bala acertou em cheio a jornalista que estava ao meu lado, que ficou protegida por seu agasalho mais grosso. Meus ferimentos foram leves e ocorreram porque eu estava de camiseta, com alguns arranhões.

Inalei uma quantidade considerável de gás tentando fotografar e filmar o momento em que os manifestantes derrubaram a cerca da mansão de Temer. Recuei para perto do caminhão de som com Guilherme Boulos, que falou no megafone sobre as pessoas machucadas.

São Paulo teve três grandes manifestações na cidade toda. A primeira foi de professores na frente da Prefeitura, seguida de uma na Avenida Paulista da Conlutas com o PSTU que durou apenas uma hora, além da principal no Largo da Batata com CUT, CTB, os principais sindicatos.

A Frente Povo Sem Medo estimou uma concentração de 70 mil pessoas.

A Polícia Militar não deu dados de quantos manifestantes estavam no local. 

Havia idosos e crianças pequenas entre os manifestantes, especialmente mais próximos do caminhão do MTST de Boulos.

Por este motivo, a Tropa de Choque não avançou tanto com sua habitual brutalidade no fim do protesto, que acabou por volta das 21h. 

“Acho que a Reforma Trabalhista não vai passar. Sabe aquela proposta de terceirização que lançaram na época do Cunha? Foi aprovada na Câmara há um ano e não andou no Senado. Essa Greve Geral vai ter um impacto muito grande e ela começa a derrubar o governo Temer. Há um grupo de senadores que vai apresentar uma proposta de antecipação de eleições para outubro de 2017”, disse Lindbergh Farias ao DCM.

No caminhão de som, além de Guilherme Boulos do MTST, discursaram o próprio Lindebergh, Gleisi Hoffman, Ivan Valente e líderes sindicais, além de representantes dos indígenas que protestaram em Brasília.

Foram mais de 130 cidades com manifestações contra Temer no dia 28 de abril, incluindo São Paulo, Rio de Janeiro, Santos, Curitiba, Porto Alegre e outras.

A Folha de S.Paulo informou que 38 delas interrompeu os transportes públicos. A PM acertou o olho de um idoso em Brasília, segundo os Jornalistas Livres.

Houve bancos depredados no Largo da Batata e 21 detidos na capital paulistana, mas muito dos atingidos por balas de borracha eram manifestantes que não cometeram nenhum tipo de crime.

https://www.youtube.com/watch?v=1rZo_XGgVmg

https://www.youtube.com/watch?v=ktpeNHRSIqU

Pedro Zambarda de Araujo
Escritor, jornalista e blogueiro. Autor dos projetos Drops de Jogos e Geração Gamer, que cobrem jogos digitais feitos no Brasil e globalmente. Teve passagem pelo site da revista Exame e pelo site TechTudo. E-mail: pedrozambarda@gmail.com