
Publicado no blog do Marcelo Auler.
Para alguns foi algo normal. Para outros, uma saia justa.
Dez anos depois de ser preso em sua residência sob a acusação de venda de sentenças favoráveis à máfia que explora os jogos eletrônicos, motivo que levou o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) determinar sua aposentadoria compulsória, o desembargador federal José Eduardo Carreira Alvim foi homenageado, segunda-feira (23/10), no Centro Cultural da Justiça Federal do Rio de Janeiro, em cerimônia que abriu as comemorações do Cinquentenário da reinstalação da Justiça Federal no estado.
Curiosamente, na mesma seção judiciária que lhe presenteou com uma placa comemorativa é onde ele, hoje, responde a uma Ação Penal. Trata-se do processo 0504548-46.2017.4.02.5101 no qual, ao lado de Virgilio de Oliveira Medina – irmão do ministro do STJ, também aposentado compulsoriamente, Paulo Medina – responde pelos crimes de formação de quadrilha, prevaricação e corrupção. A ação está na fase das alegações finais e será julgada pela titular da 6ª Vara Federal Criminal, Ana Paula Vieira de Carvalho, a quem Carreira Alvim já criticou asperamente.
O Blog não conseguiu confirmar, nem com a própria, que saiu da cerimônia sem falar com o jornalista, nem com a assessoria de imprensa do STJ, se a ministra Laurita Vaz sabia da homenagem a um magistrado acusado de corrupção e por tal motivo aposentado pelo CNJ e processado na mesma Justiça Federal que ela apontou como essencial no combate a este tipo de crime.
Sem cumprimento – A ministra, não se sabe se casualmente, deixou de cumprimentar Carreira Alvim ao ingressar no auditório do Centro Cultural da Justiça Federal e passar pelo mesmo, posicionado na primeira fila. Mas, na hora em que ele foi chamado ao palco, recebeu dele cumprimentos, com um respeitoso beijo nas mãos.
Já o presidente do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, desembargador André Fontes, em momento algum lhe dirigiu a palavra. Nem por ele foi cumprimentado no palco. Fontes, que foi alvo de críticas em um livro escrito pelo desembargador aposentado, não esconde que o ignora: “Não nos falamos. Não o reconheço”, explicou depois ao Blog.
Comportamento diferente teve o ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Mario Veloso. Os dois foram colegas na universidade em Minas Gerais e desenvolveram uma boa amizade. Isto ficou patente nos abraços afetuosos que Veloso lhe dispensou ao chegar ao auditório e quando Carreira Alvim subiu ao palco. Confira no vídeo a hora da entrega do prêmio:
Processa, pune e homenageia – André Fontes deixou claro também que o TRF-2 não tomou a iniciativa de convidar Carreira Alvim, tampouco aprovar seu comparecimento à cerimônia. Creditou a presença dele a uma decisão da diretora da seção Judiciária do Rio de Janeiro, a juíza Helena Elias Pinto. “Nós respeitamos a seção judiciária. Nós não fazemos intervenções nas administrações das seções”, explicou.
Contudo, não esconde que a ele também pareceu que soará estranho ao público uma homenagem como esta no atual momento em que o país vive. Um momento que a ministra Laurita Vaz ressaltou no seu discurso, lembrando o papel do Judiciário no combate à corrupção:
“Neste momento, em que o país expõe suas feridas, mostra quanto o sistema político, administrativo e econômico está permeado de corrupção e desvios, a Justiça Federal se apresenta como instituição firme e independente, capaz de investigar, processar e punir autoridades e grandes empresários que outrora se escondiam na sombra do poder”, expôs. Confira no vídeo.
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