“Bandido bom é bandido morto”: a tese de Bolsonaro vale para os militares propineiros denunciados no MPM? Por Kiko Nogueira

Atualizado em 5 de dezembro de 2017 às 11:14
O heroi da caserna

No mês passado, durante campanha em Belém, Jair Bolsonaro exaltou as Forças Armadas, um velho mote seu, e garantiu que os militares “voltarão ao poder pelo voto”. 

Embora seja considerado “bunda suja” pelo Exército — termo usado para aqueles que não subiram na carreira —, o ex-capitão legislou em favor da corporação em seus 26 anos na Câmara. Não emplacou nada.

Bolsonaro quer milicos em seu “governo” porque, entre outras coisas, vende-os como incorruptíveis e moralmente superiores aos políticos. É a mesma balela dos fascistoides que pedem intervenção.

Por isso não é de se estranhar o silêncio dessa turma diante da denúncia do MPM (Ministério Público Militar) no RJ.

Onze pessoas são acusadas dos crimes de estelionato e violação de dever funcional com fim de lucro em um esquema de pagamentos de propina que causou prejuízo de pelo menos R$ 150 milhões aos cofres públicos.

Três coronéis da reserva, um da ativa e dois majores, além de cinco civis, estão sob a mira do STM (Superior Tribunal Militar).

A roubalheira funcionou entre setembro de 2005 e dezembro de 2010. Houve fraudes em procedimentos de dispensa de licitação e em contratos celebrados entre o DEC (Departamento de Engenharia e Construção) do Exército e fundações privadas.

“Os envolvidos nessas atividades ilícitas acreditavam estar isentos de qualquer suspeita em razão da natureza técnica dos serviços prestados e pela posição funcional de alguns de seus integrantes”, declara o MPM.

Há gente de patente mais alta na jogada?

De acordo com o Uol, “o juiz-auditor responsável pelo caso afirmou que ‘em razão da gravidade da situação e a fim de evitar argumentos futuros de nulidade (o que poderia levar a perda do criterioso trabalho desenvolvido pelo MPM), mostra-se prudente, no momento, a remessa do feito à Superior Instância para análise do envolvimento (ou não) dos oficiais-generais’.

Os quartéis têm aberto as portas para a candidatura de Bolsonaro, recebido como o messias. A tese do “bandido bom é bandido morto” vai valer para os amigos?

Mais fácil o mito alegar que a corrupção é fruto de esquerdopatas infiltrados. 

Kiko Nogueira
Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.