Nosso colunista inglês começa a duvidar da genialidade do jogador.
DE WEMBLEY
Ladies & Gentlemen:
Sei que vocês estão há 40 anos esperando pelo Novo Pelé, assim como os judeus esperam pelo Messias e nós, ingleses, pelos Novos Beatles.
Mas lamento informar: não é ainda desta vez.
Reproduzo uma observação seca, cruel de um torcedor que estava ontem a meu lado no frio de Wembley: “Aquela rapaz de cabelo esquisito é um enganador.”
Era Neymar.
Enganador não é, e nem tampouco o Novo Pelé. Digamos que está entre as duas pontas. É um bom jogador. Talvez se transforme num jogador muito bom.
Para que isso ocorra, ele tem que superar uma limitação psicológica. Em seu time, ele é um jogador. Na seleção brasileira, outro. No Santos, intimida os adversários. Na seleção, parece intimidado pelos inimigos.
Isto ficou dramaticamente exposto no pênalti a favor do Brasil, desperdiçado por Ronaldinho. No Santos, ele bate todos, mesmo perdendo muitos. Ontem, depois do jogo, Big Phil disse que o combinado era ele cobrar a penalidade.
Mas nada fez quando Ronaldinho colocou a bola debaixo do braço e foi para a cobrança. Deveria ter dito ao companheiro: “É minha. O careca do banco mandou.” Mas ficou mudo. Fosse Chrissie, minha azeda e neurastênica mulher, Ronaldinho levaria uma sapatada pelo atrevimento.
Ladies & Gentlemen. Também eu espero, como todo bom inglês fanático pelo beautiful game, a Nova Seleção de 70.
Mas já aceitei: não é esta que está aí. Poderia ser diferente se no banco estivesse outro careca que não Big Phil, o espanhol Guardiola, que parece capaz de extrair o máximo dos jogadores sob a mínima pressão.
Mas a vida é o que é, bem como o futebol, gostemos ou não. O maior destaque do time brasileiro que vi jogar em Wembley é a camisa.
Sincerely.
Scott
Tradução: Erika Kazumi Nakamura