Nos 50 anos de seu suicídio, organizamos uma entrevista com a grande poetisa americana Sylvia Plath.

Cinquenta anos se passaram desde a morte da poetisa americana Sylvia Plath. Ela tirou a própria vida no dia 13 de fevereiro de 1963, aos 30 anos, mas sua obra continua atual e comovente. Decidimos, por isso, incluí-la em nossa série Conversa com Escritores Mortos.
Miss Plath, você foi, sem dúvida, uma das maiores poetisas da literatura americana. Você sempre gostou de escrever? Isto é, esse é seu sonho desde pequena?
Escrever sempre me encantou – pois, por sinal, tudo na vida é digno de ser colocado no papel, se você tiver coragem o suficiente para escrever e uma certa dose de imaginação para improvisar. O pior inimigo da criatividade é a dúvida em suas próprias capacidades.
E o que mais a encanta na arte de escrever?
As pessoas. Eu amo as pessoas. Todas elas. Amo-as, creio, como um colecionador de selo ama sua coleção. Cada história, cada incidente, cada fragmento de conversa é matéria prima para mim. Meu amor não é impessoal, nem tampouco inteiramente subjetivo. Gostaria de ser qualquer um – um aleijado, um moribundo, uma puta, e depois retornar para escrever sobre os meus pensamentos, as emoções que senti enquanto fui aquela pessoa. Mas não sou onisciente. Tenho que viver minha vida, e ela é a única que terei. E você não pode considerar a própria vida com curiosidade objetiva o tempo todo.
Você disse que o pior inimigo da curiosidade é a dúvida em suas próprias capacidades. Você a sentia?
O tempo todo. Respirei fundo e ouvi as batidas do meu coração. Eu sou, eu sou, eu sou. Nunca posso ler todos os livros que quero; nunca posso ser todas as pessoas que quero ser e sou incapaz de viver todas as vidas que desejo viver. E o que sempre quis? Viver. Viver e sentir todas as sombras, tons e variações de experiências mentais e físicas possíveis na vida. E sou horrivelmente limitada.
Então você já sentiu dúvida em relação ao seu futuro? Isto é, se iria atrás de uma carreira bem sucedida como poetisa e escritora ou de alguma outra coisa?
Eu vi minha vida ramificando-se diante de mim como a figueira verde da história. Na ponta de cada galho, como um figo gordo e roxo, um futuro maravilhoso acenava e piscava. Um figo era um marido, um lar feliz e filhos, outro era uma poetisa famosa e consagrada, outro era uma professora brilhante, outro era a Europa, a África e a América do Sul, outro era Constantino e Sócrates e Átila e outros vários amantes com nomes exóticos e profissões excêntricas, outro ainda era uma campeã olímpica. E, acima de tais figos, havia muitos outros. Eu não conseguia prosseguir. Encontrei-me sentada na forquilha da figueira, morrendo de fome, só porque não conseguia optar entre um dos figos. Eu gostaria de devorar a todos, mas escolher um significava perder todos os outros. Talvez querer tudo signifique não querer nada. Então, enquanto eu permanecia sentada, incapaz de optar, os figos começaram a murchar e escurecer e, um por um, despencar aos meus pés.
Você se casou com o poeta Ted Hughes, com quem teve dois filhos e um relacionamento muito complicado. Alguma coisa a dizer sobre seu marido?
Acho que criei Ted no interior de minha mente. Se a lua sorrisse, ela se pareceria com ele. Ted deixava, de alguma maneira, aquela mesma impressão, você sabe – de algo belo, mas aniquilador.

Foi, entre outras coisas, a infidelidade dele que a levou ao suicídio.
Talvez eu tenha superestimado a afeição de Ted. Se você nunca espera nada de ninguém, nunca se desaponta. Você me entende? Eu queria que alguém, em algum lugar, me entendesse um pouco, me amasse um pouco. Por todo o meu desespero, por todos os meus ideais, por tudo isso… Eu amava a vida. Mas era difícil, eu tinha muito – realmente muito a aprender.
Você sofria de depressão, Miss Plath. Alguma coisa em particular a entristecia ou a deprimia?
Eu era obrigada a optar entre ser constantemente ativa e feliz ou introspectivamente passiva e infeliz. Ou poderia enlouquecer ricocheteando entre as duas opções. Eu falava com Deus, mas o céu está vazio. Bem, foi o único modo que encontrei de fugir de minha própria mente. Mas a pior melancolia é quando pensamos que, de alguma maneira, estamos sempre sozinhos.
Como assim, “estamos sempre sozinhos”?
Deus, a vida é solitária, apesar de todos os narcóticos, apesar do contentamento penetrante das “festas” sem propósito, apesar dos falsos sorrisos que exibimos. E quando você finalmente encontra alguém em quem seria capaz de derramar sua alma, você é incapaz de continuar, chocada com as palavras que pronuncia – elas são tão desbotadas, tão feias, tão sem sentido e débeis por terem passado tanto tempo em uma escuridão estreita dentro de você. Sim, existe alegria, satisfação e companheirismo – mas o fato da alma ser solitária, completamente solitária, em sua apavorante consciência é terrível e estarrecedor.