
Uma das pedras de toque da campanha de Jair Bolsonaro é a exaltação dos colégios militares.
Bolsonaro quer implantá-los em todas as capitais e estados. É recebido em cada um deles como uma encarnação de Shiva, um unicórnio do reich.
“Vamos formar pessoas aptas ao trabalho, e não formar militantes. No mercado, ninguém quer saber quem tem senso crítico. Quer saber quem sabe física, química, que seja cientista, empreendedor”, diz ele.
“Não vai ter esse papo de sexo” avisa. Bolsonaro quer que os jovens tenham “hierarquia, disciplina”. Moral e cívica.
No debate da RedeTV, falou que o problema da educação no Brasil é a “ideologia de gênero” — um negócio que ninguém até hoje explicou do que se trata, mas que leva o terror aos cidadãos de bem.
Bolsonaro, como se sabe, foi pilhado com uma cola no programa.
Na mão esquerda, antes de um confronto com Marina Silva, escreveu as palavras “pesquisa”, “armas” e “Lula”. Apanhou feio do mesmo jeito.
Desde já, é uma das cenas mais grotescas da história desses embates. Que tipo de ministro Posto Ipiranga pode dar jeito num despreparo dessa monta?
Interpelado por um jornalista, ele reagiu da maneira esperada.
“Qual o problema? Você sabe o que está escrito aqui? Quer saber mais o quê? Quer saber a cor da minha cueca? Vá plantar cebola, vá plantar batata”, falou.
Não é apenas a indigência intelectual. Há a malandragem, a picaretagem do ato.
Que exemplo é esse para os jovens cadetes que o chamam de “mito”?
Como os colégios militares lidariam com isso? O que aconteceria com Bolsonaro?
No de Santa Maria, Rio Grande do Sul, no capítulo de “normas internas”, lê-se o seguinte:
A “Cola” caracteriza o roubo intelectual. No momento em que faz juz da “cola”, o aluno atesta a sua incapacidade. Deixa clara a intenção de buscar o sucesso por meio da fraude, da burla e da má fé. O tipo de “cola” não importa; ela é o comprovante de um alicerce fictício que vai sendo construído de mãos dadas com a insegurança. O aluno que precisa desse artifício compete de maneira desonesta com seus companheiros, caracterizando um desvio de comportamento indesejável à formação da personalidade do cidadão.
Uma prova deve servir para avaliar a capacidade de retenção dos conteúdos ensinados, a participação em sala de aula e se o método de estudo está adequado ou não; na verdade, até o nosso caráter é colocado à prova.
No de Salvador, a condenação é mais veemente. É considerada “falta eliminatória”:
Dentro de você há um juiz: sua consciência. É um juiz terrível, porque é correto e sabe de tudo, nada perdoa e de nada se esquece, por toda a vida.
Ressalta-se que o aluno fardado representa a instituição Colégio Militar e, em última instância, o Exército Brasileiro.
Psicólogos dizem que é a imagem do Homem de Bem que cada um de nós gostaria de ser.
Quando você cola (se você é “esperto”, sempre poderá burlar a vigilância), o fato não termina com a prova. O seu juiz, por toda a vida, lhe dirá que você não é perseverante, não é capaz de vencer desafios em uma luta honrosa.
“Cola” é furto intelectual. No momento em que você admite a cola, tem consciência de sua incapacidade de lutar honestamente. Fica clara a imagem de só conseguir vitória por meio da fraude, da burla, da desonestidade.
O tipo de cola não importa, ele é o comprovante de um alicerce fictício que vai sendo construído de mãos dadas com a insegurança. O aluno que precisa desse artifício, compete desonestamente com os demais.
Uma prova deve servir para mostrar sua capacidade de retenção dos conteúdos ensinados, sua participação em sala de aula, se o método de estudo está adequado ou não; até o seu caráter é colocado à prova.
Qual é o seu ideal de vida? Você se destina a uma escola de formação de oficiais? Ou a sua inclinação é curar doentes, construir edifícios, ministrar aulas? Qualquer que seja, exige de você uma formação intelectual muito sólida, que só poderá ser adquirida por quem, pelo esforço pessoal, dominar as múltiplas provas e exames.
Você quer conquistar competência ou “arrancar” um título? Aceite um conselho: ouça sempre sua consciência, seu juiz. Seja seu próprio fiscal. Quem “cola” não engana a ninguém. Está se iludindo, submergindo na luta pela vida, onde a salvação é tanto menos provável quanto mais a escamoteação for prolongada.
Ninguém escapa do juiz que se mencionou acima. No máximo, sua decisão de ser honesto pode ser menosprezada pelos adeptos da desmoralização, da desobediência às normas e às leis, do desrespeito à autoridade e da corrupção.
Aqueles para os quais a voz da consciência não tem alcance, já naufragaram na existência. Perdidos já se acham, esperanças não lhes restam.
Além do mais, sempre é bom lembrar que a utilização pelo aluno de meios ilícitos ou fraudulentos para a resolução de trabalhos escolares é considerada falta eliminatória pelo Regimento Interno dos Colégios Militares, podendo levar à exclusão disciplinar.