Mourão conseguiu se mostrar um vice pior do que Temer. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 14 de setembro de 2018 às 15:12

Michel Temer conseguiu uma façanha até pouco tempo atrás inimaginável.

Num só mandato entrou para a história desse país não apenas como o pior vice que um presidente da República pode ter, mas também como, ele mesmo, o pior presidente desde a redemocratização do Brasil.

É ruindade demais concentrada num único sujeito em tão pouco tempo de “atividade”.

Mas o caso é que pelo andar da carruagem o general Hamilton Mourão, candidato a vice de Jair Bolsonaro, procura estabelecer um novo patamar em matéria de traição, cafajestagem e totalitarismo.

Mourão e Bolsonaro

Temer, queira ou não, possui método. É um punguista nato. Observa, analisa, aguarda. Sabe o momento certo para bater sua carteira (ou sua presidência).

Mourão, não. Até por sua formação, é um bruto. Acostumado a formas mais tradicionais de golpe, aqueles ao estilo de 64, não têm paciência sequer para saber o resultado das eleições. Algo para ele, irrelevante.

Impaciente, sedento de poder e inconformado com o – imaginem só – “mimimi” de seu parceiro de chapa hospitalizado, insinua tomar seu lugar já na campanha.

Nem o vampirão ousou tanto.

Aliás, outra diferença básica na, digamos, metodologia entre os dois vices é que, uma vez usurpado o poder, Temer destrói a Constituição Federal utilizando-se da corja à sua semelhança instalada no Congresso Nacional.

Já para Mourão, isso é coisa de principiantes. Afirma categoricamente que uma nova Carta Magna pode ser inscrita a partir de indivíduos não eleitos pelo povo.

Por sinal, que povo?

O poder para essa gente não é exercido pelo voto, mas pela força. Armas de grosso calibre é o grande falo para quem a alto-afirmação não se atinge pelo intelecto. Freud explica.

Mas a grande questão é que Jair e o seu próprio Judas não são casos isolados.

Assim fosse e trinta dias de cadeia resolveria, como no caso do general Guido Manini Ríos, comandante do exército uruguaio preso por críticas políticas.

A saber, as Constituições tanto de lá quanto de cá proíbem manifestações de cunho político-partidário do alto escalão das forças armadas.

Mas como a Constituição no Brasil não está sendo respeitada nem mesmo pelos ministros do STF, o comandante das forças armadas brasileiras, general Eduardo Villas-Bôas, não só a menospreza sabatinando candidatos, como faz do seu twitter uma metralhadora para todo tipo de indigência democrática.

 É o crepúsculo de nossas instituições.

O fato é que por mais uma vez está provado o quanto é desastroso inserir armas num cenário belicoso como a disputa política brasileira.

Militares, que deveriam servir à pátria, novamente voltam a ser o fator de maior instabilidade para a nossa democracia.

Mourão, um saudosista da nossa era mais nebulosa, faz Michel Temer parecer um menino.

Defenestrar Bolsonaro dessas eleições, portanto, é um favor que fazemos não só ao Brasil, mas, a julgar pelo seu vice, até ao próprio coiso.

Carlos Fernandes
Economista com MBA na PUC-Rio, Carlos Fernandes trabalha na direção geral de uma das maiores instituições financeiras da América Latina