A sensatez de Fábio Assunção ao lidar com a música sobre sua dependência química. Por Nathalí

Atualizado em 22 de janeiro de 2019 às 18:12
Fábio Assunção (Foto: Reprodução/Instagram)

Desde que a dependência química de Fábio Assunção veio à tona, seu nome virou sinônimo de drogas e curtição inconsequente: o ator se tornou um meme vivo compartilhado milhões de vezes na internet.

Apreenderam um carregamento de cocaína com a foto dele, que funcionava mais ou menos como selo de qualidade – a zoeira, percebam, não perdoa nunca. Fabricaram máscaras com o rosto dele, que viraram febre nas festas rave, e fizeram até uma música que leva o seu nome.

A música interpretada pelo cantor  Gabriel Bartz e gravada também pela banda La Fúria já promete ser um dos grandes hits do carnaval: “Hoje eu vou beber/ Hoje eu vou ficar locão/ Hoje eu vou virar/ O Fábio Assunção.”

O ator nunca se havia se manifestado sobre os memes, mas, ao tomar conhecimento da existência da música, entrou em contato com o intérprete para o seguinte acordo: reverter os direitos autorais para a instituições de apoio a dependentes químicos.

Fofo.

Ele usou as redes sociais pra se manifestar sobre o caso:

“Eu não endosso, de maneira nenhuma, essa glamourização ou zueira com a nossa dor. Minha preocupação é com quem sente na pele a dor de ser quem é. Com as suas famílias”, escreveu.Lembrem que o Fabão aqui respeita a zueira, ama a brincadeira, mas quer vocês bem e vivos! Fortes, felizes e conscientes de seus atos e de suas vidas”

Eis, aliás, uma boa oportunidade para olharmos para a dependência química com mais seriedade e sobretudo com mais empatia. Não é papo careta – eu mesma que o diga -, é redução de danos e solidariedade à dor do outro, que nunca fizeram mal a ninguém.

A atitude de Fábio Assunção certamente não busca a caretização de uma zoeira qualquer: a glamourização da dependência química  é real e olhar pra isso com respeito não significa sustentar um discurso careta e antidrogas, significa atentar-se para um problema que, como reforçou Fábio, atinge 15% da população mundial,  e é (alguém duvida?) uma questão de saúde pública.

No vídeo, o ator fez questão de frisar, ainda, que “não censurar é diferente de deixar de conscientizar.”

“É muita gente sofrendo por não conseguir controlar suas compulsões (…). Todo mundo começa do mesmo jeito. Achando que tudo bem. E pode não terminar tudo bem. Decidimos tornar essa história um ato propositivo de ajuda a quem precisa e de conscientização”, finalizou.

O meme é ótimo, eu confesso. E usaria, se não doesse a consciência – mas, melhor do que a zoeira sem fim, é saber que existem pessoas dispostas a fazerem algo pelos outros.

Fábio Assunção poderia ter se ofendido com a música, feito textão no facebook, processado os intérpretes ou curado a raiva em uma noitada, mas optou por reverter a situação em conscientização e solidariedade.

Um dia eu vou virar o Fábio Assunção: exemplo de sensatez e empatia.

https://www.instagram.com/p/Bs8KqEPHj0v/

Nathalí Macedo
Nathalí Macedo, escritora baiana com 15 anos de experiência e 3 livros publicados: As mulheres que possuo (2014), Ser adulta e outras banalidades (2017) e A tragédia política como entretenimento (2023). Doutora em crítica cultural. Escreve, pinta e borda.