
POR CARLOS FERNANDES
Bons tempos aqueles em que as divergências políticas entre parlamentares e membros do poder executivo nacional eram tratadas na tribuna e por meio do debate ideológico.
Com o advento do bolsonarismo e seus métodos, digamos, nada ortodoxos, o confronto político-partidário abandonou o campo das ideias e passou a adotar procedimentos de convencimento mais eficientes do ponto de vista prático.
Quando Jean Wyllys se viu obrigado a abandonar sua carreira política e se auto exilar na Europa, ficou comprovada a eficácia do expediente.
O exemplo do que poderia lhe acontecer caso permanecesse a atrapalhar os interesses dos novos donos do Brasil foi demonstrado didaticamente através de Marielle Franco e Anderson Gomes.
Uma escolha qualquer, convenhamos, fica sempre mais fácil de ser tomada quando uma das hipóteses propostas é a de ser simplesmente assassinado.
O problema é que uma vez adotado esse tipo de expediente, controlá-lo requer uma especial capacidade de liderança, moderação, equilíbrio e comedimento por parte dos principais agentes envolvidos o que, vamos combinar, é tudo o que os atuais inquilinos do Palácio do Planalto não possuem.
É nesse contexto que se explica, por exemplo, o líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir, desfilar alegremente no plenário da casa com o coldre de sua pistola a tira colo.
O clima de faroeste na política brasileira nunca se fez tão presente.
E se os “inimigos” não estão a salvo, tampouco os amigos podem se sentir seguros. Isso é o que aprendeu o ainda Secretário-Geral da Presidência da República, Gustavo Bebianno.
Caído em desgraça em função do escândalo das candidaturas laranjas do PSL e pelas desavenças com os rebentos do chefe, Bebianno passou, ele próprio, a também ser ameaçado de morte por gente simpática ao bolsonarismo.
O país inteiro sabe do poder de destruição que uma única entrevista do ministro pode causar para o governo de Jair Bolsonaro. Seu silêncio, portanto, é fundamental para que as forças que hoje comandam os destinos do país se conservem no poder.
Forças essas que já deram mais do que suficientes demonstrações de que não se limitam tão somente ao espantalho que ora ocupa a cadeira de presidente ou mesmo os milicos cujo senso de oportunidade se aguçam a cada dia.
Os milicianos que dominaram o Rio de Janeiro com a luxuosa escuderia de três décadas de acobertamento por parte da família Bolsonaro, hoje dominam o país na esteira de um projeto de poder forjado a base de ameaças e assassinatos.
Bebianno, que chegou a pedir desculpas ao país por ter viabilizado a eleição de Jair Bolsonaro, ainda pode ter muito o que lamentar pela sua burrice, ignorância e estupidez.