
‘Green Book: O Guia’ levou 3 estatuetas do Oscar na noite de ontem (24), incluindo o prêmio de Melhor Filme.
O longa é baseado na história do pianista negro Don Shirley (Mahershala Ali), que contratou Tony Lip (Viggo Mortensen), um motorista branco para transportá-lo durante uma turnê pelo sul dos Estados Unidos nos anos 60, auge da segregação racial.
Com a convivência destas duas figuras muito diferentes entre si, surge uma grande amizade.
Tony, um racista, pasmem, ensina Don Shirley sobre racismo e a cultura negra.
Na categoria, concorria com obras de peso como ‘Roma’ (Alfonso Cuarón), ‘Vice’ (Adam McKay), ‘A Favorita’ (Yorgos Lanthimos) e ‘Infiltrado na Klan’ (Spike Lee).
Após polêmicas envolvendo ativistas negros e também a família do pianista, que está processando os produtores por calúnias e mentiras – a ponto de Mahershala Ali haver pedido publicamente desculpas aos parentes do músico – a premiação de ‘Green Book’ como Melhor Filme, é, no mínimo, controversa.
O filme usa uma máscara antirracista, mas não passa de mais uma história sobre o mito do branco salvador.
A mensagem que fica é: “se você é racista, mas tem um amigo negro, tudo bem”.
Por esses e outros motivos, durante a entrega do prêmio para a equipe de ‘Green Book’, Spike Lee se levantou e deu as costas para o palco.
De acordo com relatos de quem esteve presente na premiação, o cineasta Jordan Peele, responsável por ‘Corra!’ (2017), também não ficou nada feliz.
Spike Lee (The one in purple) left the room when Green Book was announced as the winner. My man. #Oscars pic.twitter.com/CGVjPlbpDL
— Deniz S. (@MrFilmkritik) February 25, 2019
Ao fim do evento, Lee conversou com jornalistas e falou sobre o sentimento de ver o longa conquistar a premiação.
“Eu senti como se estivesse do lado da quadra no Garden [histórico ginásio do time de basquete do coração do diretor, o New York Knicks] e o juiz tivesse acabado de tomar uma decisão ruim”, disse.
O cineasta relembrou a época de ‘Faça a Coisa Certa’, quando nem chegou a ser indicado na categoria de Melhor Filme e viu ‘Conduzindo Miss Daisy’ vencer a premiação.
“Esse é meu sexto copo [de champagne] e vocês sabem o motivo. Toda vez que alguém está dirigindo outra pessoa, eu perco. Mas em 89 eu nem cheguei a ser indicado”, completou.
Não se pode negar que esta foi a edição do Oscar com maior representatividade negra e a pressão para o combate ao racismo levou a Academia a premiar uma obra sobre a temática.
No entanto, seguindo sua tradição racista, Hollywood decidiu premiar o filme mais que mais “passa pano” para brancos da lista.
Fique abaixo com a íntegra do impactante discurso de Spike Lee que, apesar da injustiça, levou para casa a estatueta de Melhor Roteiro Adaptado:
https://www.youtube.com/watch?v=tTo3XYm33WU