Spike Lee tem razão em ficar revoltado com a vitória de ‘Green Book’ no Oscar. Por Larissa Bernardes

Atualizado em 25 de fevereiro de 2019 às 13:30
Spike Lee ficou pistola com o Oscar para “Green Book: O Guia”

‘Green Book: O Guia’ levou 3 estatuetas do Oscar na noite de ontem (24), incluindo o prêmio de Melhor Filme.

O longa é baseado na história do pianista negro Don Shirley (Mahershala Ali), que contratou Tony Lip (Viggo Mortensen), um motorista branco para transportá-lo durante uma turnê pelo sul dos Estados Unidos nos anos 60, auge da segregação racial.

Com a convivência destas duas figuras muito diferentes entre si, surge uma grande amizade.

Tony, um racista, pasmem, ensina Don Shirley sobre racismo e a cultura negra.

Na categoria, concorria com obras de peso como ‘Roma’ (Alfonso Cuarón), ‘Vice’ (Adam McKay), ‘A Favorita’ (Yorgos Lanthimos) e ‘Infiltrado na Klan’ (Spike Lee).

Após polêmicas envolvendo ativistas negros e também a família do pianista, que está processando os produtores por calúnias e mentiras – a ponto de Mahershala Ali haver pedido publicamente desculpas aos parentes do músico – a premiação de ‘Green Book’ como Melhor Filme, é, no mínimo, controversa.

O filme usa uma máscara antirracista, mas não passa de mais uma história sobre o mito do branco salvador.

A mensagem que fica é: “se você é racista, mas tem um amigo negro, tudo bem”.

Por esses e outros motivos, durante a entrega do prêmio para a equipe de ‘Green Book’, Spike Lee se levantou e deu as costas para o palco.

De acordo com relatos de quem esteve presente na premiação, o cineasta Jordan Peele, responsável por ‘Corra!’ (2017), também não ficou nada feliz.

Ao fim do evento, Lee conversou com jornalistas e falou sobre o sentimento de ver o longa conquistar a premiação.

“Eu senti como se estivesse do lado da quadra no Garden [histórico ginásio do time de basquete do coração do diretor, o New York Knicks] e o juiz tivesse acabado de tomar uma decisão ruim”, disse.

O cineasta relembrou a época de ‘Faça a Coisa Certa’, quando nem chegou a ser indicado na categoria de Melhor Filme e viu ‘Conduzindo Miss Daisy’ vencer a premiação.

“Esse é meu sexto copo [de champagne] e vocês sabem o motivo. Toda vez que alguém está dirigindo outra pessoa, eu perco. Mas em 89 eu nem cheguei a ser indicado”, completou.

Não se pode negar que esta foi a edição do Oscar com maior representatividade negra e a pressão para o combate ao racismo levou a Academia a premiar uma obra sobre a temática.

No entanto, seguindo sua tradição racista, Hollywood decidiu premiar o filme mais que mais “passa pano” para brancos da lista.

Fique abaixo com a íntegra do impactante discurso de Spike Lee que, apesar da injustiça, levou para casa a estatueta de Melhor Roteiro Adaptado:

https://www.youtube.com/watch?v=tTo3XYm33WU

Larissa Bernardes
Jornalista formada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.