Extrema direita já acusa islâmicos pelo incêndio da Notre Dame. Por Pedro Mendonça

Atualizado em 25 de janeiro de 2020 às 20:02
A Notre Dame pega fogo

POR PEDRO MENDONÇA

O incêndio na Catedral de Notre Dame já está sendo usado pela extrema direita como instrumento de ódio contra o Islã.

Teorias conspiratórias e uma extenuante busca por culpados tomaram conta do discurso de extremistas aqui e lá fora. As autoridades tratam o episódio como “acidente” e descartam a possibilidade de atentado terrorista.

Olavo de Carvalho logo se pronunciou apresentando um texto de um blog francês, de maio de 2009, que apresenta uma teoria conspiratória sobre um projeto de ”islamização” na França, intitulado ”Muçulmanos ‘moderados’ rejubilam-se com uma França em breve muçulmana ”.

Olavo de Carvalho aponta para texto de alerta sobre conquista islâmica na França: ”Profético”.

O texto diz o seguinte:

Muçulmanos “moderados” rejubilam-se com uma França em breve muçulmana

Então eu faço a pergunta: estas declarações são públicas, elas são violentamente discriminatórias (“você terá o status de dhimmis”, etc.), elas são contra a diversidade, etc. Mas nunca serão condenadas. Por quê?

Pessoalmente eu prefiro que essa conversa alucinatória dos chamados muçulmanos moderados conversando entre si e, portanto, não usando a linguagem da dissimulação quando se dirigem a não-muçulmanos permaneça acessível para que todos possam lê-los e descobrir o verdadeiro projeto do Islã da França: a conquista.

Espalhe amplamente ao seu redor.

Pouco tempos depois, o amigo de Olavo, o escritor e crítico literário Rodrigo Gurgel, se pronunciou: ”Não me venham com discursinhos. Onde estão os culpados?”, questionou.

O medo do tal ”projeto islâmico” vem crescendo nas últimas décadas na França, vocalizado por gente como Marine Le Pen.

Em 2005, uma ficção distópica chamada A mesquita Notre Dame 2048, lançada pela escritora russa conservadora Elena Chudinova, causou controvérsia.

No evento de lançamento, ela afirmou que ”é necessário retomar as raízes cristãs do continente, e discutir a falência das ideias democráticas de tolerância e multiculturalismo”.

É esse mesmo pensamento que está no substrato da direita brasileira.

Post do olavista Flávio Azambuja Martins, que usa o pseudônimo Flávio Morgenstern

 

Flávio Morgenstern, escritor de extrema-direita e pupilo de Olavo de Carvalho, e que foi condenado a indenizar Caetano Veloso por ter criado a hashtag ‘”#CaetanoPedófilo” no Twitter, seguiu a corrente de delírio e fez postagens indicando a ”nitidez” do atentado.

Com o clima propício para fake news, não demorou muito para que os boatos se espalhassem.

Como no caso dos conflitos no ano novo alemão, em que o veículo de extrema direita Breitbart News noticiou que um grupo cantando ”Allahu Akbar” teria vandalizado uma igreja, e fora posteriormente desmentido pela polícia.

Allan dos Santos, blogueiro bolsonarista.

O InfoWars, site conspiratório de disseminação de notícias falsas, foi um dos primeiros a apontar que o desastre na Catedral teria sido intencional, baseado supostamente no depoimento de um homem que trabalhava na restauração da Notre Dame.

“Catedral de Notre Dame em incêndio, trabalhador afirma que foi deliberadamente iniciado”