Por que o 100 Club é um dos melhores programas de Londres para quem ama música

Atualizado em 20 de novembro de 2012 às 16:59

É uma casa de shows pequena, modesta até, mas marcou a história do rock londrino

Vi o filho, mas não o pai. Infelizmente.

Há um ano, eu estava no 100 Club para assistir a uma apresentação de James McCartney, o filho de Paul. O 100 é parte da história do rock londrino. Você vê nas paredes da casa fotos antigas de cantores e bandas tocando e cantando lá.

100 vem do número em que a casa – intimista, na qual cabem 300 pessoas – fica na Oxford Street. Ir lá é um programa altamente recomendável para quem vem a Londres.

James, por volta de 30 anos, lembra fisicamente o pai no rosto. Mas é mais gordo e tem poucos cabelos, o que me levou a suspeitar que Paul tenha feito implante. Em minha ingenuidade, acreditei por muitos anos que os músicos de rock fossem à prova da calvície. Alguns, como Robert Plant ou Jimmy Page, parecem ter mais cabelo aos 60 e poucos do que tinham no apogeu.

É curioso ver uma banda iniciante em que toque o filho de alguém como Paul. Algumas mordomias típicas de gente célebre podem aparecer. Lembro que alguém passava toalhinhas para James McCartney secar o suor.

Não é um som como o de Paul. James faz um rock mais pesado e menos bom que o do pai. Não cantou uma única composição dos Beatles, no que acertou. Em outras circunstâncias, eu provavelmente teria ido embora no meio da apresentação. Esperaria um intervalo e zarparia. Foi o que fez, sem muita cerimônia, a estilista Stella McCartney, irmã de James. Num momento ela estava no 100. No outro sumira.

Era a segunda vez que eu ia ao 100. Na primeira, vira Mick Taylor, ex-Stones. Mick estava enorme, com uma barriga que servia de suporte para a guitarra. No 100 você pode ver os músicos de perto. Todos ali, incluídos eu e alguns dos músicos que acompanhavam Mick, ficaram grudados nele, de olho na mão direita, para ver seus grandes solos.

A sensação que me deu foi que Mick Taylor tem passado, e James McCartney não tem futuro. Tinha ouvido falar num cd que ele estaria preparando, mas não soube de mais nada depois daquela noite no 100.

Perdi Paul lá.

Paul no 100

Ele fez o mesmo concerto do Brasil (que também não vi) e do Hyde Park (que vi). Músicas dos Beatles, basicamente, com algumas novidades, como as homenagens a John e George ao cantar A Day In The Life e Something.

Paul foi dar uma mão amiga ao 100, ameaçado de fechar. Os aluguéis no centro ficaram muito mais caros desde os anos dourados do clube. Há um movimento para preservá-lo.

Muitas coisas me encantam em Paul, é claro. A simpatia, a versatilidade, o talento, a voz.

Mas há uma coisa específica que impressiona: o amor que Paul tem pelo que faz. Você que ele está feliz no palco. Faz um, dois bises.

Tenho sempre a sensação de que ele ficaria tocando a noite toda – se a platéia deixasse.

É um grande exemplo que ele lega. Faça aquilo que você gosta de fazer..

Este texto foi publicado no Diário do Centro do Mundo em 17 de dezembro de 2010