
O segundo ato dos estudantes contra os cortes na Educação recebeu um tratamento aos moldes da gestão tucana de sempre.
Centenas de estudantes, professores e apoiadores foram novamente às ruas na noite desta quinta-feira.
O governador João Doria, entretanto, resolveu mostrar as garras. Enviou a PM, o Baep, Rocans, viaturas, um contingente de policiais gigantesco.
Uma pedestre alheia ao que acontecia disse para a amiga: “Pensei que tivesse acontecido algum assalto”. Eram apenas jovens estudantes.

Por que um aparato tão ostensivo e com uma postura de opressão contra jovens que estão lutando por uma melhor educação pública?
O exército do governador não queria deixar os manifestantes nem mesmo saírem do Masp. Fizeram um cerco em frente ao vão. Foi preciso driblar o bloqueio em meio a muita tensão, mas a partir daí um pega-pega se estabeleceu pelas ruas no entorno da avenida Paulista. A cada tentativa de fuga, um novo cerco.
Desde o início os estudantes queriam caminhar até a Secretaria da Educação, só isso, mas existia uma ordem superior impedindo.

O argumento oficial era de que o número de manifestantes não era expressivo.
“A polícia queria que enviássemos uma carta prévia, mas a gente sabe que a avenida Paulista historicamente é palco de manifestações de direita que são liberadas independentemente de pedido prévio. Nós não cedemos e agora estamos aqui sendo ‘escoltados’”, disse o estudante Marcelo Rocha que negociava com o comando da operação uma forma de não ocorrer o chamado ‘envelopamento’ ou algo pior.
Escopetas já estavam sendo apontadas em direção aos manifestantes a cada vez que um cordão policial se postava intimidador diante dos ativistas.

“Só querem reconhecer legitimidade no protesto se há um organizador. Isso não tem sentido, a população pode se organizar livremente.
Hoje há algumas organizações aqui, mas nenhuma delas está à frente. Quem está puxando são secundaristas autônomos. O ministro pensou que ia nos desmobilizar com a história da liberação de algum dinheiro, mas temos que intensificar as manifestações para evitar todos os cortes, não só na Educação”, declarou Luciano Delgado, professor de matemática nas redes estadual e municipal.
A noite desta quinta-feira demonstrou que a insatisfação popular atingiu o “no turning point”.
O aceno de recuo por parte do ministro Abraham Weintraub que tirou da cartola R$ 1,6 bi ontem com um discurso fajuto não logrou êxito no sentido de arrefecer os ânimos.
Os alunos de escolas públicas sabem que o problema na Educação não é de hoje e não acreditam que será solucionado amanhã. Então a cada esquina os estudantes faziam questão de parar e gritar que não sairão da ruas. Até porque nenhum deles parece disposto a ostentar um diploma falso de Harvard ou coisa parecida.
Parecem ter entendido o que já dizia Celso Furtado: “É só quando prevalecem as forças que lutam pela efetiva melhoria das condições de vida da população que o crescimento se transforma em desenvolvimento”.
