A nomeação de Edilásio Barra, conhecido como Tutuca, para a Secretaria do Audiovisual da Secretaria Especial da Cultura do Ministério da Cidadania (a redundância é oficial) mostra o desprezo de Jair Bolsonaro pela arte e pela cultura, especialmente cinema e a televisão.
Edilásio Barra sucede Pedro Henrique Peixoto, biógrafo do ex-ator pornô Alexandre Frota, que como deputado federal era seu padrinho político.
Alexandre Frota tem atacado o governo e hoje mesmo teve um áudio seu vazado, em que ele acusa o Planalto de ter tirado o seu indicado para colocar Tutuca, apadrinhado de outro parlamentar, Éder Mauro.
“Eles tiraram o Pedro Peixoto, que eu fui buscar na Fox. Um cara com 50 programas de televisão nas costas, criador do Pânico. Trabalhou anos na TV Globo, na Record, na Rede TV, na Band. (…) Assumiu o audiovisual, foi sabatinado, aprovado por unanimidade. E agora o Osmar Terra (ministro da Cidadania, que tem a secretaria sob seu comando), junto com o Henrique, tira esse cara, a pedido do Bolsonaro e do deputado Éder Mauro. Esse cara é primo do Éder Mauro, e o Ônyx tinha uma dívida com o Éder Mauro. Pra colocar o sobrinho dele em alguma coisa, tiraram um profissional e colocaram um cara que era figurante na novela Roque Santeiro. (…) Ele não tem formação em cinema e nunca fez absolutamente nada. Não sabe o que é cinema”, disse.
Pedro Peixoto não era o nome mais adequado para a Secretaria de Audiovisual, que já foi uma das áreas mais ativas do Ministério da Cultura antes que este fosse extinto. Mas, sem dúvida, tinha mais qualificação que o Tutuca.
Além de uma experiência inexpressiva em televisão, Tutuca tem uma dívida tributária com o Fisco, o que deveria impedi-lo de ocupar um cargo de confiança na alta administração pública.
De acordo com a propaganda bolsonarista, os cargos de confiança seriam preenchidos por pessoas de comprovada competência técnica e sem pendências de ordem legal. Edilásio não atende aos requisitos.
Ele tem quatro CNPJs na Receita Federal, todos já baixados, que deixaram uma dívida tributária de cerca de R$ 95 mil. O valor não é alto, mas indica que o novo secretário não dá atenção a suas obrigações tributárias.
A dívida maior é da Vip da Barra Produções Artísticas Ltda, que tem o mesmo nome de um programa que ele apresentou pela CNT do Rio. Segundo ele próprio divulgava, era um programa no estilo “Amaury Júnior”.
Talvez seja na condição de colunista social que conheceu Jair Bolsonaro, de quem se tornou amigo. Em 2016, Edilásio passou o Natal na casa do ex-capitão, e os dois gravaram um vídeo, postado na rede social de Bolsonaro.
“Ao meu lado, um amigo, Edilásio Barra. Já trabalhou inclusive na novela Roque Santeiro. Uma mensagem a vocês, especialmente àqueles maiores de 35 anos de idade”, disse Bolsonaro.
Edilásio dá a sua mensagem:
“Eu fico muito feliz de ser convidado. É uma honra, né, estar ao lado neste Natal maravilhoso, neste Natal de esperança, Natal que renova a nossa vida, e Natal de reflexão. Então, estou ao lado desse grande amigo, Jair Bolsonaro, desejamos a vocês um Natal de muita esperança, de muita fé e que Papai do Céu traga o melhor para você, que realize seus sonhos.”
Como empresário, Edilásio tentou vários negócios, como se pode concluir por seus CNPJs. Ele montou até um empreendimento evangélico, a Igreja Continental do Amor de Deus.
Um blogueiro de Manaus, por onde Edilásio passou, registrou, em 2011:
O radialista e ex-colunista social, Edilásio Barra, que durante muitos anos apresentou programas de TV em Manaus, virou pastor e está inaugurando a sua própria igreja no Rio de Janeiro.
Edilásio Barra, que fazia o tipo “Amaury Jr” local, está fundando a Igreja Continental do Amor de Jesus, postou um vídeo no Youtube, convidando pessoas para a inauguração. O vídeo postado no dia 08 deste mês (nove dias antes) tinha 46 acessos até a manhã de hoje. Em outro vídeo, Edilásio ensaia sua primeira pregação.
O vídeo da pregação, infelizmente, já foi retirado do YouTube. Mas, pelo jeito, poucas pessoas atenderam a seu convite. A igreja não existe mais.
Se emplacasse a igreja, poderia seguir outros exemplos no ramo e conseguir concessões ou espaços em televisão, ficando com uma fatia desse bolo milionário que é o mercado evangélico.
Agora no governo Bolsonaro, é ele quem vai comandar a política de audiovisual do Brasil. Devedor do Fisco, figurante de televisão, pastor fracassado, ele chegou lá pelas mãos do amigo Bolsonaro e graças ao balcão de negócios das nomeações políticas do Planalto.
Se ele tem currículo para o posto? É claro que não. Mas o que isso importa num governo de desconstrução nacional.