Certas coisas você só vai encontrar na imprensa britânica.
A revista History Today acaba de fazer 60 anos. Para comemorar, um antigo colunista presta uma homenagem ao fundador Brendan Bracken, um grande amigo e aliado de Churchill, de quem foi ministro da Informação durante a guerra e a quem chamava de Boss. Churchill ficou emocionado quando morreu Bracken, uma figura capital no jornalismo de negócios britânico. Ele dirigiu a Economist e consolidou o Financial Times.
Bracken mereceu agora um tributo — bem à inglesa.
O colunista lembra, logo no primeiro parágrafo, que Bracken era “detestado” pelos funcionários do ministério. Quando ele saiu, eles fizeram uma festa. Também está escrito que ele seria uma das inspirações para o Grande Irmão de George Orwell no romance 1984.
É uma sinceridade desconcertante, à qual não estamos acostumados na cultura laudatória brasileira, em que os jornalistas bajulam em artigos até fundadores de publicações que não são as suas.
Lembro, particularmente, as resenhas que foram feitas em jornais e revistas quando saiu uma biografia de Frias, da Folha. Parecia que ele tinha inventado o jornalismo no Brasil. Era como se fosse travada uma competição de resenhistas para ver quem dobrava mais a espinha. O Brasil deve ser também um caso único em que um locutor de telejornal chora ao anunciar a morte do patrão.
Uma das coisas boas de estar em Londres é respirar o ar em que viceja uma mídia – esqueçamos os tablóides – com a qual, aos 54 anos, aprendo todos os dias.