A procuradora que avisou que a Lava Jato seria vista como perseguidora do PT e responsável por Bolsonaro

Atualizado em 29 de junho de 2019 às 12:09
A procuradora Jerusa Viecieli

Por causa de uma maldição de Apolo, a pitonisa Cassandra era considerada louca quando contava aos troianos suas previsões de catástrofe e desgraça.

Deu no que deu.

No meio da nova leva de diálogos da Lava Jato revelados pelo Intercept, há um monólogo precioso.

Os procuradores se mostram enlouquecidos com a promoção do então juiz Sergio Moro, considerado chefe da turma, a ministro de Jair Bolsonaro.

Pouco antes do segundo turno das eleições, Jerusa Viecili e Paulo Roberto Galvão demonstram em mensagens seu descontentamento com Bolsonaro.

Jerusa escreve o seguinte:

Pessoal, desculpem voltar ao assunto (sou voto vencido), mas, somente esta semana, várias pessoas, inclusive alguns colegas e servidores, me questionaram a ausência de manifestação da FT [Força Tarefa] diante de alguns posicionamentos dos candidatos à presidência.

Fato é que sempre nos posicionamos diante de várias ameaças ao nosso trabalho e, nos últimos dias, temos ficado silentes, mesmo com ameaças de candidatos à independência do Ministério Público (nomeação de PGR fora da lista tríplice) e à liberdade de imprensa.

Em outros tempos, por motivos outros, mas igualmente relevantes e perigosos, divulgamos nota, convocamos coletiva e ameaçamos renunciar (!).

Agora, jornalistas escrevem no Twitter que a LAVA JATO é caso de desaparecido político, pois já alcançou o que queria. Acho muito grave ficarmos em silêncio quando um dos candidatos manifesta-se contra a nomeação do PGR da lista tríplice, diante de questões ideológicas.

Mais grave ainda, assistirmos passivamente, ameaças à liberdade de imprensa quando nós somos os primeiros a afirmar a importância da imprensa para o sucesso da Lava Jato.

Igualmente grave, candidatos divulgarem nomes de futuros ministros que são alvos de investigações e processos por corrupção. Nossa omissão também tem peso e influência.

Eu sinceramente não quero (e isso a penas a história dirá) que a Lava Jato seja vista, no futuro, como perseguição ao PT e, muito menos, como co-responsável pelos acontecimentos eleitorais de 2018. . . 

Batata.

Por que esses covardes não meteram a boca no trombone e denunciaram Moro?

Porque são covardes, ora.

 

Kiko Nogueira
Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.