
Na carta em que o Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB) comunica ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, a suspensão da compra de couro brasileiro pelos principais importadores do mundo, o presidente da entidade é elegante.
Elegante demais para um representante do setor que corre o risco de prejuízos gigantescos, em um mercado que gera 2 bilhões de dólares de receita por ano.
José Fernando Bello disse que entende o panorama em que a imagem do Brasil está virando cinza, tanto quanto as árvores queimadas na Amazônia.
Bello defendeu o governo quando afirmou que há “uma interpretação errônea do comércio e da política internacionais acerca do que realmente ocorre no Brasil”.
Mas o que ele propõe é impossível de alcançar com o atual governo. “É inegável a demanda de contenção de danos à imagem do país no mercado externo sobre as questões amazônicas”, escreveu.
Ele gostaria que o Brasil passasse a ser visto novamente como um verdadeiro combatente das queimadas e com políticas efetivas de preservação ambiental.
Com Bolsonaro na presidência, é impossível.
Desde a campanha, Bolsonaro dá declarações que estimulam a ação criminosa por parte de produtores rurais. Além disso, sua prática é a de desmontar o aparato de fiscalização do estado.
Recusou até dinheiro da Alemanha e da Noruega que seria usado na fiscalização, através do convênio do Fundo Amazônia.
Ao mesmo tempo, sua base política na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei que autoriza a exploração agropecuária em terras indígenas, que são essenciais na preservação.
A imagem do Brasil está queimada por causa de Bolsonaro e de sua falta de credibilidade. Qualquer esforço na direção de melhorar a imagem do Brasil na questão ambiental será inútil enquanto Bolsonaro permanecer na presidência.
Esta é a realidade.
O CICB melhor faria se pedisse o afastamento de Bolsonaro por provocar prejuízo à economia brasileira.
Mas é difícil, já que os empresários de maneira geral apoiaram com entusiasmo a eleição de Bolsonaro à presidência. As indústrias do couro, incluindo a de curtume, são filiadas à Fiesp, que praticamente se transformou num comitê bolsonarista na última eleição.
Francisco Santos, que é fundador e presidente da Couromoda, por exemplo, declarou que o Brasil decolaria como um foguete depois da eleição de Bolsonaro.
“A eleição de Jair Bolsonaro já está dando uma reação forte e positiva no mercado”, disse ele, em outubro do ano passado.
“Ela destrava a economia e faz com que o empresariado retome projetos que vão movimentar a indústria, o varejo e o setor de serviços. Isto nos leva a prever uma forte melhoria das vendas neste Natal, trazendo otimismo e confiança ao nosso setor. Superado o processo eleitoral, a indústria começa a definir suas coleções para estar presente na Couromoda, que deve ser a feira da retomada econômica”, disse.
Como se sabe, as vendas não estouraram no último Natal nem houve retomada econômica.
A carta aberta divulgada hoje pelo CICB pode ser lida de outra maneira. Nas entrelinhas, deixa transparecer o arrependimento.
Os empresários como os da indústria do couro embarcaram em uma aventura que poderá representar a redução drástica de sua atividade.
Deram um tiro no pé e agora esboçam uma reação tímida.
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Segue a carta encaminhada ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles: