Thriller, o musical

Atualizado em 24 de maio de 2013 às 12:40

Que musical escolher para levar meu irmão Zé?

Não dá para visitar Londres sem ir a pelo menos um de seus esplêndidos musicais de West End. Camila, minha caçula, nos acompanharia.

Bem, ficou mais fácil. Thriller, no Lyrics Theatre, que conta a trajetória de Michael Jackson.

Thriller, o musical, renasceu com a morte de Michael. Estava para sair de cartaz, depois de alguns anos em cartaz. Aí veio em 2009 a notícia da turnê de Londres. Decidiram esticar um pouco. E então, logo depois, a morte chocante de Michael Jackson mostrou à produção que a peça não podia parar.

O público detestaria.

Casa lotada, como sempre.

Como roqueiro, acompanhei a carreira de Michael Jackson à distância. Cafona, brega, para quem como eu ouvia Led, Yes, Mutantes, Terço. Depois também o noticiário em torno dele trazia mais extravagâncias do que outra coisa. A alegada pedofilia era dominante, bem como informações vagas de que ele dormia em câmaras hiperbáricas para viver para sempre.

Isso sem contar casamentos em que era impossível imaginar cópula. E fora o embranquecimento patético. Um negro bonito foi se transformando numa velha branca parecida com Diana Ross.

Zé, em frente da National Gallery, em Trafalgar Square: um menino em Londres.

É irônico. Michael usou loucamente o marketing sem necessidade. Sua música era suficiente para garantir a atenção devotada da mídia.

Fui conhecê-lo  melhor, sem preconceito, depois da morte. Principalmente porque suas músicas tocavam ubiquamente, mas também por curiosidade intelectual.

E por uma equação básica: tantos milhões de pessoas não podiam estar erradas e eu certo.

Para encurtar:  era um gênio, um homem frágil esmagado pela fama e pelo dinheiro.

Smooth Criminal, Billie Jean, Bad, Black or White, Beat It e tantas outras.

Só o extremo talento poderia criar tantas coisas únicas. E as danças. O cara parecia ter nascido dançando. Madonna você vê que é fruto do esforço desumano na dança. Michael Jackson dançava como nós respiramos ou falamos.

Tudo isso está, encaixotado e condensado, em Thriller.

Vários atores e dançarinos interpretam Michael em seus diferentes momentos.

Meu mano ficou encantado. Vi que batia palmas de acompanhamento em várias músicas, como um menino. É um cara tímido, e aquilo mostrava o quanto estava gostando. Camila via pela segunda vez, como eu. Parecia que tínhamos descoberto várias coisas novas, ou detalhes que não tínhamos notado na primeira vez.

Ali estava novamente um dos Michaels que tínhamos visto, com uma barriga ligeiramente visível e destacada pela roupa justa.

Ri mais uma vez ao vê-lo: Michael Jackson ia abominar se ver barrigudo.

Põe esse cara num regime ou pra fora do elenco. Fuck!

Estava claro, quando voltamos para casa, que Michael Jackson vive e viverá por muito, muito tempo.

Ele tinha um pavor tenebroso de morrer, e mal sabia que era imortal.