
Em dezembro de 2017, Rosângela Moro, esposa do então juiz Sergio Moro, foi a Brasília fazer lobby e teve um encontro com o deputado Eduardo Barbosa (PSDB).
Esse “encontro” chamou atenção pelo possível conflito de interesses.
A mulher de Moro comandava a Procuradoria Jurídica da Federação das Apaes e o deputado Eduardo Barbosa é igualmente ligado às Apaes em Minas Gerais.
Por isso, todos os envolvidos no episódio buscaram simular que a situação tinha sido um mero acaso.
Como noticiado à época por este DCM, as explicações dadas pelo deputado não paravam em pé. Segundo ele, foi quase um esbarrão acidental pelos corredores da Câmara.
Mas Rosângela Moro tinha razões ainda mais concretas para camuflá-lo. O deputado Barbosa estava na mira da Justiça.
Ele já foi presidente da Federação Nacional das APAEs e alavancou sua carreira política com os recursos públicos que são destinados a essas entidades. Em 2009 – véspera de ano eleitoral – ele regou com R$ 1 milhão a Apae de Minas Gerais, seu reduto eleitoral.
Meses depois, ocorreu o XI Congresso Mineiro das APAEs, organizado com a verba concedida pelo deputado, evento que tinha como celebridade ninguém menos que o próprio Eduardo Barbosa.
Resumindo, o tucano destinou R$ 1 milhão (ou R$ 999.997,82 para ser mais exato) de verba pública para uma entidade organizar um evento que lhe serviu de palanque eleitoral.
Na semana passada, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, denunciou o deputado por peculato.
Após investigação e quebra de sigilo bancário da conta que recebeu os recursos, ficou esclarecido que a maior parte do dinheiro repassado às empresas subcontratadas não apresentava prestação de contas, que foi destinada para pessoas físicas e, evidentemente, utilizada para financiar a campanha eleitoral do deputado Barbosa em sua reeleição.
“Trata-se de recursos públicos provenientes de emendas parlamentares”, afirmou a nota da PGR. A verba é da Secretaria de Direitos Humanos (SDH) da Presidência da República e destinada à promoção e defesa de direitos de pessoas com deficiência.
O nobre tucano garfou-a.
Na hipótese de ser condenado, o deputado Eduardo Barbosa pode perder o mandato. O Ministério Público Federal leva, em média, 26 dias para analisar e despachar em uma ação judicial (dados da ferramenta ‘MPF em números’).
Aguardemos as cenas dos próximos capítulos, pois tucanos são mestres em escapar da gaiola.
Essa “facilidade” de que Eduardo Barbosa goza na aprovação de emendas destinadas às APAEs é que deve ter atraído Rosângela Moro.
Seu lobby é por criar um “fundo de reserva para situações emergenciais, imprevistas ou imprevisíveis” para essas entidades. Receber recursos além do orçamento para se precaver dos infortúnios, entendeu?
O mundo seria bem melhor se todos pudéssemos contar com isso. É fato.
No entanto, longe de afirmar que as APAEs nadem em dinheiro, essas entidades já recebem recursos adicionais do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação) e do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação).
Como todos os dias vocifera o capitão chefe do governo do qual seu marido faz parte, Rosângela Moro deveria saber que não há dinheiro para nada, nem saúde, nem educação, nem fiscalização do Ibama.
Hospitais públicos pegam fogo e os pacientes morrem carbonizados por não terem nem mesmo uma brigada de incêndio, quanto mais um “fundo de reserva”.
Nas mãos dessa gente tucana e lavajatista, você confiaria a criação de uma poupança, leitor?