O Rio, que marchou à Bienal contra a censura, não marcha por Ágatha, executada pela PM de Witzel. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 21 de setembro de 2019 às 20:25
Ágatha Félix, 8 anos, assassinada pela PM de Witzel

O Rio de Janeiro deveria estar na rua em protesto contra o assassinato da menina Ágatha Félix, 8 anos, pela polícia de Witzel.

No entanto, o Rio de Janeiro está em casa.

Ou melhor, nem todo ele: os moradores do Complexo do Alemão, onde ela foi baleada, saíram com cartazes.

Tristes, poucos, cansados, desanimados mais do que revoltados.

O Rio de Janeiro, que elegeu um governador genocida e um prefeito bispo da Universal, não se importa com seus mortos diários.

A cidade se mobilizou quando Crivella tentou censurar gibis com um beijo gay. Houve uma comoção, um grito.

O prédio foi invadido, vídeos viralizaram, Felipe Neto brilhou, celebridades, subcelebridades, Míriam Leitão, Laurentino Gomes e outros escritores deixaram seu recado.

Nenhum deles vai subir o morro por Ágatha.

Deu tudo errado no Rio. Deu tudo errado no Brasil.

Ela foi atingida nas costas por um tiro de fuzil quando estava dentro de uma Kombi.

Foi levada para o Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, e não resistiu.

As testemunhas relatam que não houve troca de tiros com ninguém, o oposto do que alega a corporação.

“Quem tem que dar informações é quem deu o tiro nela. Matou uma inocente, uma garota inteligente, estudiosa, obediente, de futuro. Cadê o policiais que fizeram isso? A voz deles é a arma”, disse seu avô, Ailton.

“Não é a família do governador ou do prefeito ou dos policiais que estão chorando, é a minha. Amanhã eles vão pedir desculpas, mas isso não vai trazer minha neta de volta”.

O mito de que “o morro vai descer” é isso: um mito.

A Zona Sul é mais próxima de Marte que do Complexo do Alemão. 

Witzel vai continuar dormindo tranquilo. Amanhã os helicópteros da Polícia Militar vão sobrevoar barracos diferentes e abrir fogo.

O eleitor desse sujeito tem as mãos sujas de sangue.

Outra criança negra será executada e mais outra e mais outra — e, no dia seguinte, os cariocas estarão na praia.