Evo Morales embarcou para o México, em avião da Força Aérea daquele país, com uma bandeira do país que o acolheu. Antes disso, ele postou no Twitter:
Irmãs e irmãos, parto para o México, grato pelo generosidade do governo daquele povo irmão que nos deu asilo para cuidar de nossas vidas. Dói sair do país por razões políticas, mas sempre estarei informado. Em breve, voltarei com mais força e energia.
A foto de um presidente partindo para o exílio é uma imagem dolorosa, que se pensava banida da história da América do Sul.
Evo Morales cometeu o grave erro político de não aceitar o resultado de um plebiscito que, por margem estreita, decidiu que ele não deveria concorrer a um novo mandato.
Mas, se fizesse diferente, como Lula no Brasil, e desconsiderasse a pressão popular e política de aliados para concorrer a um novo mandato, nada indica que a direita boliviana se contentaria.
Lula, por exemplo, abriu mão de tentar concorrer a um terceiro mandato, mas foi perseguido mesmo assim. Seguiu direitinho as regras da democracia, e não adiantou.
A direita no Brasil, assim como na Bolívia, tem ódio é da ascensão popular, representado por um projeto de governo que dá prioridade à inclusão social.
Seria bom para todos — foi a receita que criou as bases do grande desenvolvimento dos Estados Unidos, 150 anos atrás. Mas o preconceito da elite dos respectivos países supera a racionalidade.
Veja o caso de Evo Morales.
Ele convidou a Ordem dos Estados Americanos (OEA) para auditar o resultado eleitoral. Aceitou a conclusão dos auditores, de que teria havido “graves irregularidades” na apuração dos votos, e convocou novas eleições.
A chance de vencer num novo pleito era grande, já que seu governo, indiscutivelmente, foi bem sucedido, com uma taxa média anual de crescimento em torno de 4,5 por cento, a maior da América do Sul.
Mas com a elite do atraso, tanto na Bolívia quanto no Brasil, não existe acordo racional possível.
As forças de oposição que se moveram lá parecem ser as mesmas que no Brasil derrubaram Dilma Rousseff, que também fazia um governo bem sucedido, com taxa de desemprego baixa, altas reservas cambiais e a perspectiva de retomada do crescimento.
Parece um modelo bananeiro de golpe:
Milionários se unem à igreja, sobretudo a evangélica e, em nome de Deus, com o apoio decisivo da mídia, militares e milicianos, violentam instituições, como a propriedade privada – casas incendiadas lá, aqui tumulto em frente à casa de ministros do STF, bem como a ameaça de eliminação física.
Tem uma mão invisível que movimenta esses atores, e é preciso identificá-la. É o Bacurau da não ficção, parece coisa de gente que não quer perder o quintal onde se brinca com o sangue humano.
.x.x.x.
PS: Em 1953, um político cubano, Fidel Castro, se exilou no México. Seis anos depois, ele voltou, para derrubar a ditadura de Fulgêncio Batista, o porteiro do playground dos irmãos do Norte.
.x.x.x.
Reportagem atualizada: a bandeira que Evo Morales mostrou na foto tirada quando embarcou foi a do México, não a da Bolívia.