Datafolha: cada vez menos gente crê que Bolsonaro combate a corrupção. Por José Cássio

Atualizado em 8 de dezembro de 2019 às 9:34
Jair e Eduardo Bolsonaro ao lado do amigo Queiroz

Ainda que tenha conseguido frear um pouco a impopularidade, um dado chama a atenção nesses primeiros 12 meses do governo Bolsonaro, segundo revela a pesquisa Datafolha deste domingo: há uma piora na percepção sobre como ele atua no combate à corrupção.

Nada menos que 50% dos entrevistados (eram 44% no levantamento anterior) entendem que o discurso moralista do capitão durante a campanha não se traduz no dia a dia.

Casos como os de Flávio Bolsonaro, enrolado até o pescoço com os fantasmas do ex-assessor Fabrício Queiroz, desaparecido da Justiça de Moro, mas morando ricamente numa mansão ao lado do estádio do Morumbi, em São Paulo, onde faz tratamento no Einstein, são exemplos de que o que Bolsonaro dizia não passava de pura mentira.

E que dizer dos laranjas do PSL?

Um esquema escabroso de desvio de recursos do fundo eleitoral que faria envergonhar a ‘velhinha de Taubaté’, personagem de Luís Fernando Veríssimo que acreditava em coisas que até Deus duvida.

A suspeição de Sergio Moro, o flagrante envolvimento de Carlos Bolsonaro – está na linha de investigação da polícia civil do RJ – no assassinato de Marielle e do motorista Ânderson, as queimadas criminosas na Amazônia, a omissão em casos de violência contra negros, indígenas, populações vulneráveis, a relação com as milícias, tudo isso é entendido como corrupção à medida em que o poder foi instrumentalizado para atacar e escamotear.

Não por acaso também a mesma pesquisa mostra que 80% dos brasileiros não confiam na palavra do presidente. Em bom português, para toda essa gente Bolsonaro é um grande mentiroso.

E a CPMI das fake news está aí para provar: um político que ascendeu ao poder e instalou próximo de si um bunker para atacar e destruir pessoas e estruturas não pode mesmo ser digno de boa reputação.

Neste fim de semana, Fábio Porchat definiu Bolsonaro como alguém que ‘não governa, se vinga’.

É a síntese perfeita para o sentimento contido no inconsciente da população: Bolsonaro é visto como corrupto não apenas no modus operandi tradicional, daquele tipo levar vantagem, pôr algum no bolso e garantir o futuro dos netos, bisnetos, etc.

É pior que isso por não ter pudor em usar o aparato do Estado para perseguir e retaliar.

Eis a grande sabedoria do povo, revelada pela pesquisa: a corrupção em alguns momentos chega a ser mais nociva do que a gente podia imaginar.

Jose Cassio
JC é jornalista com formação política pela Escola de Governo de São Paulo