
Gustavo Bebianno diz que Bolsonaro está próximo de trocar a indicação de Sergio Moro no STF por um ex-assessor de gabinete de Eduardo Bolsonaro sem nenhuma experiência jurídica.
“Seria um deboche com a Corte, com os outros Ministros e com a sociedade”, diz sobre o ministro Jorge Oliveira, que ocupa o seu lugar como chefe da secretaria-Geral da presidência.
Bebianno, que sentiu na pele a fúria do clã Bolsonaro, ao ser fritado logo no início do governo, diz que o capitão está jogando Moro às traças.
“Não se faz isso com uma pessoa, induzi-la a abandonar uma carreira estável como tinha para, logo depois, sem qualquer motivo plausível, jogá-la às traças. Moro sabe que, sem pestanejar, o presidente o descarta, especialmente se tiver interesse pessoal envolvido”.
Nesta entrevista exclusiva ao DCM, Bebianno fala também de Olavo de Carvalho, Regina Duarte e, entre outros assuntos, da chance de alguém do campo conservador ocupar o lugar no capitão junto ao eleitorado de direita em 2022.
Essa relação entre Moro e Bolsonaro tem chance de prosperar e chegar ao fim do mandato?
Tenho muita admiração pelo ministro Sergio Moro, um homem educado, sério, maduro. Não obstante, ele já viu o bastante, até aqui, para saber que o presidente não cultiva muito apreço por seus aliados. Ele sabe que, sem pestanejar, o presidente os descarta, especialmente se tiver interesse pessoal envolvido.
Como é a situação dele no governo atualmente?
Delicada. Ele acreditou no presidente e abandonou mais de duas décadas de magistratura. Abriu mão de uma carreira praticamente vitalícia, para abraçar um novo projeto para o Brasil.
Na minha opinião, só esse aspecto, por si só, já seria motivo mais do que suficiente para o presidente honrar a sua palavra, honrar o compromisso que assumiu com o ministro. Qualquer ato diferente do que foi combinado será uma grande traição.
Não se faz isso com uma pessoa, induzi-la a abandonar uma carreira estável como tinha para, logo depois, sem qualquer motivo plausível, jogá-la às traças.
O que me parece mais grave ainda é que o presidente tem cogitado indicar para o Supremo, no lugar do Moro, um rapaz que é advogado há apenas seis anos, desprovido de qualquer experiência mínima para uma função tão importante.
Bolsonaro confia em Moro o suficiente para concretizar essa indicação para o STF?
O presidente tem verbalizado que pretende indicar duas pessoas: uma seria o ministro Jorge Oliveira, de quem gosto muito, mas que não tem a experiência e o saber jurídico necessários para a função.
É advogado há seis anos apenas e, nesse período, trabalhava no gabinete do Eduardo.
Imagine o decano da Corte sendo substituído por um rapaz que é advogado, de forma esporádica, há apenas seis anos e com praticamente nenhuma experiência prática. Isso seria um deboche com a Corte, com os outros Ministros e com a sociedade.
A outra pessoa seria o ministro André Mendonça.
Veja que o nome do Moro está sendo preterido, apesar do seu infinito maior preparo e experiência como magistrado. Quem melhor para o STF que um magistrado com mais de 20 anos de experiência?
Não há termos de comparação.
O presidente tem a prerrogativa de escolher livremente os seus ministros, para atuação no executivo, mas não pode ser leviano e indicar alguém tão inexperiente para o Poder Judiciário, para cargo quase vitalício.
Entre esses três, quem tem mais chances de ser indicado?
Na minha opinião, o presidente tentará se livrar do Moro. Só vai indicá-lo em último caso, na hipótese de perceber que não conseguirá demiti-lo sem grandes abalos perante a opinião pública.
O senhor disse que Regina Duarte não sabe onde está entrando ao aceitar o convite para a secretaria da Cultura. Considera que ela terá vida curta no Governo?
Gostei muito da escolha. Acho a Regina um doce de pessoa, além de me parecer ser seria e capaz. Contudo, a impressão que tenho é a de que está sendo usada para que a imagem do governo seja amenizada. Além disso, parece-me que as suas qualidades serão consideradas, para o núcleo duro do governo, graves defeitos.
Espero que os covardes que estão lá tenham um pouco de educação e respeito dessa vez. Vamos torcer.
O senhor teve de sair do Governo por causa do destempero do filho do presidente, Carlos Bolsonaro. Alguns dizem que ele tem problemas emocionais, e até mentais. Porém, tem forte influência sobre o pai. Até onde Bolsonaro e Carluxo são iguais?
De fato, os dois são bem parecidos.
No entanto, o presidente teria a obrigação de impor limites aos filhos, já que escolheu o cargo que ocupa.
Atrapalhadas como as cometidas pelo ministro da Educação e pelos próprios filhos do presidente são apenas acidente de percurso ou são situações que são colocadas porque o presidente acredita mesmo nelas?
Tudo com o presidente é trabalhoso.
Ele tem dificuldade em formar uma opinião e tomar uma decisão embasada. É quase tudo no improviso. Daí as incessantes idas e vindas. É exaustivo. Não precisava ser assim.
Qual a real avaliação que Bolsonaro faz das ideias de Olavo de Carvalho?
Honestamente, o presidente sequer conhece as ideias do Olavo.
No seu livro, Tormenta, Tahis Oyama narra um fato em que o general Heleno chama Bolsonaro de despreparado. Qual a sua opinião sobre isso?
Ele foi o maior fenômeno eleitoral dos últimos anos no Brasil.
Tem muitos méritos, a exemplo da campanha que fez. Não obstante, não se mostra uma pessoa muito empenhada em estudar e trabalhar pelo país. Nunca vi um presidente se preocupar tão cedo, e exclusivamente, apenas com a própria reeleição.
O senhor acha que o governador de SP, João Doria, ou mesmo Luciano Huck, têm condições de ocupar o espaço de Bolsonaro no campo conservador e derrotar o presidente em 2022?
O Brasil é maior do que o nome de duas pessoas, Lula e Bolsonaro. Sem sombra de dúvidas, há outros nomes capazes de livrar o Brasil dessa polarização raivosa e radical.