
Publicado originalmente pelo Justificando:
Por Catia Eli Gemelli
Desde que assumiu a Presidência da República, Jair Bolsonaro elegeu as redes sociais como seu principal canal de comunicação. Essa estratégia estende-se aos demais membros de sua equipe, como é o caso do Ministro da Educação, Abraham Weintraub. Dentre elas, destaca-se o twitter¹, onde Abraham registra 436 mil seguidores e realiza postagens diárias. Essa intensa comunicação via twitter despertou a curiosidade: sobre o que tuíta o atual Ministro da Educação?
De 15 de novembro de 2019 até 14 de janeiro de 2020, Abraham escreveu 102 mensagens (excluindo-se os tweets compostos apenas por vídeos ou imagens, sem qualquer texto escrito). Ao coletar essas mensagens e rodá-las em software² que analisa a frequência de palavras, foi possível extrair quais os principais termos utilizados na sua escrita.
Desse total, as 15 palavras mais mencionadas foram:
Ao anunciar as medidas adotadas pelo Ministério da Educação, na maioria das vezes, Abraham refere-se ao Governo Bolsonaro: “Livro didático no Governo Jair Bolsonaro: mais barato e sem ideologia política ou de gênero.”; “O compromisso do governo do Presidente Bolsonaro é dar continuidade ao Fundeb […]”; “Com o Governo do Presidente @jairbolsonaro foram destinados mais de R$ 10 milhões para bolsas de pesquisa na área da Segurança Pública [..]”. Por isso, “Governo” e “Bolsonaro” destacam-se entre os termos mais utilizados.
Essa relação de adulação de Abraham à Jair já foi destacada por outros/as colunistas e parece fazer parte das atribuições ao cargo, já que se estende a outros/as ministros/as como Sérgio Moro e Damares Alves. Em suas redes sociais, Sérgio e Damares também fazem elogios constantes ao presidente e sempre atribuem a ele importantes medidas de sua pasta.
Outro destaque à forma como o Ministro da Educação se comunica via twitter é o constante tom irônico, agressivo e debochado de suas postagens: “Coletiva de imprensa, rede globo/marinho chega atrasada…mais perdida que cachorro em dia de mudança….e ainda quer sentar na janelinha…”. O próprio destaca sua ironia em alguns momentos: “Vejam o exemplo do fracasso do “ensino” doutrinário no Brasil. Parabéns PT! Parabéns Paulo Freire! (Estou sendo irônico). […]”.
Essas questões ficam ainda mais evidentes quando os tweets referem-se a jornalistas ou veículos de comunicação que publicaram alguma crítica às medidas tomadas pelo Ministro: “O resultado a ser divulgado é de 2018, ÚLTIMO ANO DO PT! A ESQUERDA e Paulo Freire é que levaram o Brasil à lama. Ou o senador não leu a matéria e foi afoito ao comentar mais um título sacana do eXtadão, ou não consegue compreender o texto, ou foi desonesto no comentário.”; “Tem ‘jornalista’ como a Playmobil falando que não há plantações de maconha nas universidades federais. Que dureza…”.
Mais do que um ataque ao jornalismo, trata-se também de uma estratégia de deslegitimar análises críticas sobre suas ações, traçando um discurso de uma imprensa inimiga e que publica inverdades. Abraham utiliza a mesma narrativa de Jair ao estabeler quais seriam as pessoas e os veículos confiáveis para informar-se sobre o trabalho do governo: “Segue o MELHOR RESUMO do que temos feito e pretendemos fazer na área de Educação/Ensino. Essas informações são verdadeiras e minha sugestão é que leiam o Victor Metta. Porém, alguns podem se ‘informar’ pela folha/frias, globo/marinho ou outras ‘maravilhas’ que temos na mídia”.
O termo família sobressai nas menções, pela divulgação do projeto “Leitura em Família” lançado em dezembro de 2019. Já os termos Antes, Hoje e PT, que possuem 10 menções cada, são utilizados nas constantes comparações de Abraham sobre sua gestão e as gestões dos ministros anteriores (que ele reduz à menção ao PT). O Partido dos Trabalhadores também é incessantemente citado como responsável por avaliações negativas na Educação: “O PT e seus especialistas levaram o Brasil ao ÚLTIMO LUGAR na América do Sul em termos de ‘educação’.[…]”; “[…]O Governo Bolsonaro começou em janeiro de 2019 e vamos arrumar mais essa porcaria que o PT deixou!”; “Revalida: o Governo Bolsonaro está resolvendo mais esse problema criado pelo PT.[…]”; “O resultado a ser divulgado é de 2018, ÚLTIMO ANO DO PT! A ESQUERDA e Paulo Freire é que levaram o Brasil à lama. […]”.
Em alguns momentos, a sigla do Partido dos Trabalhadores é substituída pelo termo esquerda: “Em Abril de 2018, último ano do mandato Dilma PT Temer, o Brasil ficou SIM em ÚLTIMO lugar em educação na América do Sul! A CULPA É DA ESQUERDA!!!! […]”. Inclusive, o Abraham define a Educação brasileira como sendo um “educação de esquerda”: “O Governo Bolsonaro irá mudar essa TRAGÉDIA que é a ‘educação’ de esquerda.[…]”.
Segundo suas mensagens, a responsabilidade sobre as críticas divulgadas pela imprensa também seria “da esquerda”: “Diante dos resultados positivos que começam a aparecer e de minha total intransigência com o errado e o malfeito, esquerda e monopolistas entram em desespero. A mídia podre defende tais interesses e espalha mentiras. O ladrar desses cães é prova que estou no caminho certo.”
Relacionados diretamente à sua pasta, figuram apenas três palavras entre as 15 mais utilizadas: Educação, MEC e Livros. Professores, Universidades, Ensino, Pesquisa, Extensão e tantas outras sequer aparecem entre as 40 mais citadas nos tweets escritos pelo Ministro da Educação nos últimos dois meses. Escolas, Investimentos e programa até aparecem, mas não conseguem ser mais frequentes que Bolsonaro ou o PT.