
De Paris
Os franceses fizeram boa parte do Louvre com pilhagens napoleônicas, como escrevi outro dia.
Mas já levaram um troco – e não pelas armas, e sim pelo patriotismo doente, talvez misturado a uma sede de fazer dinheiro rápido.
Há cem anos, em agosto de 1911, a Mona Lisa desapareceu. Não havia ainda alarme e nem sistemas sofisticados de segurança. Um fabricante de espelhos levou a Mona Lisa com tranquilidade num dia em que o museu não funcionava. (Naquele tempo, às segundas-feiras.) Ele conhecia bem o museu: prestara serviços ali. Pegou o quadro e colocou-o, segundo relatos da época, por baixo de seu sobretudo.
Uma obra de Rafael, Castiglione, substituiu-a temporariamente no Salão Carré.

A Mona Lisa foi reaparecer, depois, na Itália. Não por acaso. O ladrão, Vincenzo Peruggia, era italiano. Ela chegou a ser exibida em Florença, Roma e Milão.
Quando descoberto, Peruggia afirmou que surrupiara a Gioconda por “razões patrióticas”. Queria, disse, devolvê-la à terra de origem. Ele afirmava que Napoleão roubara o quadro e por isso ele estava consertando um crime de apropriação indevida de arte.
Não era bem assim.
O próprio Da Vinci dera a Mona Lisa ao rei francês em cuja corte fora trabalhar, no século XV.
De resto, se o amor à Itália era a origem do crime, ele supostamente não deveria tentar lucrar com a Mona Lisa. Mas tentou. Quis vendê-la a um comerciante de artes na Itália. Foi pego exatamente nessa tentativa. Os franceses jamais engoliram as “razões patrióticas”, mas os italianos sim.
O ladrão foi saudado como herói na Itália. Julgado lá, pegou uma pena simbólica. Foi libertado antes de cumpri-la por inteiro. Como a própria Mona Lisa, ele retornou à França, onde morreu sem nunca mais voltar a ter problemas com a polícia.