Como a luta pelos direitos das mulheres se transformou em data comercial. Por Nathalí

Atualizado em 8 de março de 2020 às 14:04
Mulheres feministas se manifestando no Dia Internacional da Mulher. Foto: Agência Brasil

O oito de março, hoje chamado de Dia Internacional da Mulher, é, originalmente, o Dia Internacional da Luta pelos Direitos das Mulheres. Um dia para lembrarmos que nos queremos vivas, sãs e salvas.

Não foi a toa que as duas palavras mais importantes dessa denominação – luta e direitos – tenham sido suprimidas, dando lugar a um nome genérico que conduz à ideia de presentes e congratulação. O capitalismo, que engole tudo, engole também a nossa luta, e transforma esse dia de resistência numa bela oportunidade pra vender flores mortas e chocolates.

De pronto, é bom dizer: não há nenhum problema com as flores (afora o fato de que estão mortas e murcharão – dêem flores vivas!), com os presentes, com o chocolate. O problema é esquecer o verdadeiro propósito deste dia: combater os efeitos nocivos da cultura patriarcal na vida das mulheres.

O que pensam os que nos parabenizam hoje?

Se merecemos congratulações, é por estarmos vivas em um país com a quinta maior taxa de feminicídio do mundo. A cada uma hora e meia, uma mulher morre no Brasil por causas violentas. A cada doze minutos, uma de nós é estuprada, e, por dia, são treze mulheres assassinadas.

Desculpem, mas não dá pra resolver isso com flores. A única maneira é o bom combate – e é por isso, só por isso, que este dia existe.

Querem homenagear as mulheres nesse oito de março? Parem de nos matar.

Nathalí Macedo
Nathalí Macedo, escritora baiana com 15 anos de experiência e 3 livros publicados: As mulheres que possuo (2014), Ser adulta e outras banalidades (2017) e A tragédia política como entretenimento (2023). Doutora em crítica cultural. Escreve, pinta e borda.