A esquerda que quer esperar 2022 para se livrar da besta-fera não entende nada de política. Por Luís Felipe Miguel

Atualizado em 21 de abril de 2020 às 8:35
Jair Bolsonaro. (Mauro Pimentel/AFP)

Publicado originalmente pelo perfil do autor no Facebook

Cada vez que Bolsonaro dá um upgrade nas suas provocações (como ontem, na manifestação dupla pelo vírus e pela ditadura), aparecem os estrategistas da nossa esquerda para dizer que não é hora de pensar em impeachment.

A correlação de forças não é propícia. É ilusão. Não temos mobilização suficiente. Não temos votos no Congresso. E assim por diante.

Acho incrível. Essa conversa é de gente que leu Marx, leu Lênin, leu Gramsci. Pelo jeito não captaram a primeira lição dos escritos deles.

É claro que nunca vai haver correlação de forças propícia, para fazer nada, se fizermos política julgando que uma dada correlação de forças está congelada. Se nossa ação no mundo não entrar no diagnóstico que fazemos desse mesmo mundo.

Apresentar a imediata retirada de Bolsonaro da presidência como um imperativo urgente é parte do processo de criar as condições para que isso ocorra.

É uma bandeira que tem condições de prosperar, mesmo nas condições adversas que enfrentamos, porque uma parte crescente da população já vê que sua manutenção na presidência é, literalmente, um risco à vida de todos nós.

Mas se a oposição a Bolsonaro prefere não fazer nada, seja por comodismo ou por julgar (insanamente) que é mais negócio ficar esperando por 2022, daí nada ocorrerá, mesmo.

E quando a besta-fera permanecer no poder, vão nos olhar com aquele olhar douto e dizer: “É, nós tínhamos razão, ele não caiu mesmo.”

PS: Este breve artigo é importante para todos, mas sobretudo para os líderes do PCdoB, os maiores defensores da estratégia “temos que esperar 2022” e “Fora Bolsonaro” pode fortalecê-lo. Cometem erro equivalente ao de defender o arrendamento da Base da Alcântara os Estados Unidos.