A boca grande da Laureate e a sua falta de compromisso com a qualidade da Educação. Por Luis Felipe Miguel

Atualizado em 14 de maio de 2020 às 20:49
EAD Laureate. Foto: Divulgação

Publicado originalmente no perfil do autor no Facebook

Por Luis Felipe Miguel

Faz uns dias, foi denunciado que a Laureate – corporação internacional que explora o ensino superior privado em vários países, entre eles o Brasil – estava colocando, às escondidas, robôs para corrigir os trabalhos dos alunos.

Agora está demitindo os professores dos cursos de educação à distância. Já mandou embora 120, evidentemente sem qualquer preocupação com a quase impossibilidade de realocação dos profissionais neste momento de pandemia.

 

Eles serão substituídos por “tutores”, com salários quase 80% menores, e os professores dos cursos presenciais ganharão a responsabilidade extra de supervisionar os cursos à distância.

 

Quando foi flagrada botando os robôs para avaliar trabalhos dissertativos por meio de palavras-chave, a Laureate lançou uma nota hipócrita dizendo que queria “liberar a agenda” dos professores para que investissem “mais tempo na relação direta com seus alunos”, já que o “objetivo é sempre humanizar ainda mais a relação de ensino e aprendizagem”.

 

Acho que ninguém caiu na lenga-lenga deles. Agora o propósito real foi desvelado de vez: ampliar a exploração da mão de obra docente e reduzir despesas às custas da qualidade do serviço oferecido.

 

A defesa da educação privada é feita, muitas vezes, com base na ideia de “pluralidade de métodos de ensino”, “projeto pedagógico pessoal” e coisas do tipo. Parece que estamos no tempo do Colégio Abílio, aquele que Raul Pompéia espinafrou em O Ateneu, mas que Luiz Edmundo, menino pobre beneficiado com uma bolsa, exaltou em suas memórias: a realização do sonho de um educador, que colocava sua alma na instituição. (O Ateneu é um dos pontos altos da literatura brasileira, mas as memórias de Luiz Edmundo também não são de se jogar fora.)

Independentemente do julgamento que façamos dessas experiências, o fato é que esse tempo passou há muito. O ensino privado é um negócio de grandes corporações que se guiam exclusivamente pelas planilhas de custos e pela expectativa de lucro dos investidores.

 

Com um Estado que tenta impor normas e fiscalizar, a situação já é ruim. Com o Estado entregue ao livre-mercadismo, quando não a serviço direto dos tubarões do ensino, como é o caso do Brasil (as regras de funcionamento das instituições privadas têm sido sistematicamente relaxadas nos últimos anos e a família de Paulo Guedes investe fortemente no setor), é o caos.

 

Creio que o melhor, no caso do ensino privado, é igual ao da medicina privada: proibir, em nome de valores igualitários, republicanos e democráticos.