
Karina Kufa, que é advogada de Jair Bolsonaro e tesoureira da comissão provisória do partido que ele tenta colocar de pé, tem um passado político que os apoiadores do presidente certamente não apoiariam.
Militante feminista, ela atuou ao lado da vereadora Marielle Franco e de outras políticas de esquerda no movimento pró-aborto.
Em dezembro de 2017, Kufa, Marielle e mais 140 mulheres assinaram uma carta entregue ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia, para pressioná-lo a não colocar em votação o projeto de emenda constitucional que impedia os abortos até em casos previstos em lei.
Segue o texto:
Nós, parlamentares de diversas instâncias do poder legislativo, lideranças religiosas, artistas, jornalistas, professores/as e pesquisadoras/es, dirigentes sindicais, cidadãs e cidadãos brasileiros dos mais variados segmentos da sociedade, com respaldo de várias organizações e movimentos sociais, apoiados em declarações de organismos das Nações Unidas e nos compromissos internacionais assumidos pelo Estado brasileiro em favor dos direitos humanos das mulheres, dirigimo-nos aos Presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, bem como aos líderes partidários de ambas as Casas, para manifestar nossa apreensão e rechaço às Propostas de Emenda Constitucional nº 181/2015, que tramita em Comissão Especial da Câmara, e nº 29/2015, que tramita na Comissão de Constituição e Justiça do Senado.
A PEC 181/2015, cujo objetivo original se resumia a ampliar o direito à licença maternidade em casos de nascimento de bebês prematuros, protegendo as mulheres trabalhadoras, foi desvirtuada de tal maneira que sua aprovação, da forma como se apresenta hoje, irá promover o
aumento da criminalização das mulheres que recorrerem ao aborto, criminalização esta que hoje empurra milhões de mulheres para o sofrimento decorrente de práticas clandestinas que produzem sequelas para a saúde, e morte.
Utilizar-se do instrumento de emenda à Constituição Federal para definir arbitrariamente sobre a vida das mulheres é uma decisão do Parlamento que atenta frontalmente contra a dignidade humana de milhões de mulheres e meninas, contra seus direitos à saúde, à autodeterminação e ao planejamento reprodutivo, e também contra a diversidade de compreensões sobre o início da vida, na contramão do desenvolvimento do debates no âmbito da ciência e da bioética.
O relatório da PEC 181/2015, recém-aprovado na Comissão Especial, tem efeito idêntico ao da PEC 29/2015: promover retrocesso na legislação hoje vigente, que garante a mulheres que sofreram violência sexual, que estejam sob risco de morte na gestação ou gerando fetos anencéfalos,
o direito de interromperem a gravidez e não serem criminalizadas por isto.
A ofensiva contra os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres também se expressa, no Congresso Nacional por meio do PL 478/2007, conhecido como “Estatuto do Nascituro”, que atualmente tramita na Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, assim como pelo PL 4703/1998, que pretende incluir o aborto no rol dos crimes hediondos, sob apreciação da CCJC. Todos atentam contra o direito ao aborto hoje previsto em lei.
As ameaças contidas nestas propostas legislativas representam para nós um enorme retrocesso e não expressam a opinião das mulheres brasileiras. Haja visto que o relatório da PEC 181/2015 foi aprovado na Comissão Especial com 18 votos favoráveis de parlamentares homens. O único voto contrário partiu de uma mulher. Das seis Deputadas que compõem o colegiado de 35 membros que formam esta Comissão, cinco se declararam categoricamente contrárias ao parecer do relator. As ruas e as redes sociais estão tomadas de indignação das mulheres seus familiares, amigos e aliados de luta. As 400 assinatura abaixo são expressão desta posição e tem respaldo nas 142 organizações e movimentos que também assinam esta Carta.
Clique aqui para ler a notícia da entrega do manifesto a Rodrigo Maia, com o assinatura de Karina Kufa e Marielle Franco.
Além disso, Kufa também advogou para a JBS, cujos acionistas foram investigados por corrupção. Um deles, Joesley Batista, contou como corrompeu autoridades durante muito tempo.
Também participou de operação controlada para mostrar que pagava propina para Michel Temer e Aécio Neves.
Advogar para empresas envolvidas em casos de corrupção não significa nada. Nem diminui a importância de Karina como profissional.
Mas, quando situação equivalente aconteceu com Sérgio Moro, os bolsonaristas passaram a atacar o ex-ministro.
Moro foi representado pelo escritório de advocacia Sánchez Rios, do criminalista Rodrigo Sánchez Rios, responsável pela defesa de Eduardo Cunha (MDB/RJ) e executivos da construtora Odebrecht na chamada operação Lava Jato.
No entanto, será que sabem que a advogada Karina Kufa atuou para a JBS até agosto de 2019, ou seja, quando já trabalhava para Jair Bolsonaro?
Kufa notabiliza-se pela constante aparição pública sob o título de “Advogada de Bolsonaro”, ao mesmo tempo em que divide com ele o projeto do Partido Aliança, o 38.
A advogada do Presidente Jair Bolsonaro, portanto, atuou simultaneamente para o Presidente da República e para um dos envolvidos nos tantos escândalos de corrupção, que o próprio Bolsonaro condena.
Não é de se ignorar, ademais, que tanto Bolsonaro quanto seus filhos já atacaram publicamente a JBS.
Será que conhecem a atuação simultânea de sua advogada que ocorreu até agosto de 2019?
Os fatos acima noticiados podem ser conferidos no Processo nº 1016557.35.2018.4.01.3400, da 1ª Vara Federal do Distrito Federal, na qual respondem por improbidade administrativa, cujo valor apontado pelo Ministério Público Federal é de R$ 7.000.000,00 (sete milhões de reais), os irmãos Batista, além de outros executivos e advogados que atuaram para a JBS.
Kufa defendeu Francisco de Assis e Silva, um dos principais executivos do grupo JBS, sendo então seu diretor jurídico.
Kufa assinou defesa em seu favor na data de 18 de fevereiro de 2019, tendo permanecido atuando no processo até a data de 22 de agosto de 2019, ou seja, ambas as datas quando já se apresentava publicamente como a “Advogada de Bolsonaro”.
Resta saber, agora, se aos bolsonaristas que atacaram Moro pelo mesmo motivo honrarão o ditado segundo o qual “pau que bate em ‘chico’ também bate em ‘Francisco’.
