Demonização da política levou a escória moral e intelectual ao leme da nação. Por Fernando Brito

Atualizado em 18 de julho de 2020 às 13:26
Bolsonaro fantasiado de bexiga de salame numa reunião ministerialD

Ruim com ele, pior sem ele, reza o dito popular.

É assim, estamos vendo, também na política.

Do processo de negação generalizada dos partidos, iniciado em 2013 – lembram-se da “proibição” de se levarem bandeiras de partidos às tais “jornadas de junho”? – à dissolução completa dos mecanismos de organização política da sociedade passou-se, relativamente, pouco tempo.

As “identidades” passaram a ser o núcleo – precário núcleo – da associação, já não calcada nas ideias, mas em condições e valores que não nos deveriam separar: gênero, orientação sexual, posições morais, religiosas, etc.

Os partidos, fundamentos da organização política que, a partir do final do século 19, conformaram a construção – defeituosa, claro – da democracia, foram dissolvidos pelos ácidos do moralismo e pelo delírio de uma “democracia direta”, via redes sociais, que transformou tudo num “like” e “deslike” que, até na posição do polegar, faz recordar o Coliseu romano.

Aplaude-se delirantemente ou executa-se impiedosamente.

Como resultado, tivemos Jair Bolsonaro, mas não só.

Perdeu-se apolítica propriamente dita: a capacidade de articular, agregar, somar, reunir e, com isso, a de produzir avanços na vida das coletividades.

Os partidos progressistas têm se saído especialmente mal diante deste processo. Aceitamos a entrega do processo político a delegados, promotores e juízes.

Claro que investigações, processos e julgamentos por atos ilícitos devem, precisam existir. Mas não podem ser a regra, o instrumento de definição dos embates políticos.

A fórmula encontrada para retirar Lula da disputa política saiu do controle e destruiu, de forma avassaladora, a capacidade do país de encaminhar qualquer projeto. Pior, elevou a pior escória moral e intelectual ao leme de uma nação sem rumo.