“Emenda Moro” da inelegibilidade é apenas barulho. Por Fernando Brito

Atualizado em 29 de julho de 2020 às 21:53

Publicado no Tijolaço

Sérgio Moro. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Uma velha raposa do Congresso, o deputado Tales Ramalho, nos anos 70, criou a expressão “flores do recesso” para falar das “ideias geniais” que surgiam no afastamento dos deputados e senadores do plenário. E expressão acabou se tornando sinônimo das ideias boas, mas inexequíveis.

É evidentemente salutar que magistrados sejam blindados de que seus próprios apetites eleitorais façam suas decisões buscarem a notoriedade e o aplauso fácil das condenações feitas pelo clamor, antes da turba e, agora, da mídia.

Como é evidente que a decisão mira Sérgio Moro, mais pronto e acabado exemplo disso.

Justamente por esta evidência, não creio que tenha chance de prosperar – um pouco mais na Câmara e bem menos no Senado – algo que, embora correto, fica marcado pelo casuísmo.

Quem pretende cortar a exploração de prestígio vergonhosa do juiz paranaense não pode, tal como ele próprio fez.

Primeiro, porque dificilmente lhe seria aplicável, tendo deixado, há mais de ano e meio, a magistratura, dificilmente seria atingido por ela e ainda faria palanque de uma eventual disputa eleitoral pelo direito de candidatar-se.

Em segundo lugar, porque é preciso ter a coerência e a coragem de enfrentar Moro no campo moral, ético e legal, pela sua escandalosa parcialidade e pela relação de promiscuidade – contubérnio, como dizia Brizola – que manteve com a Força Tarefa do Ministério Público, que misturou e fez uma só coisa de acusação e julgador, tonando sentenças um jogo de cartas marcadas, ao qual o TRF-4, a segunda instância, fez carimbo e coro.

Algo de que todos os juízes, procuradores (como Augusto Aras) e jornalistas da grande mídia sabiam, sem nenhuma dúvida sobre os abusos que ocorriam.

O que isso denota, porém, tem isso reflete uma situação política no Supremo Tribunal Federal, onde Moro se tornou um cadáver problemático, à espera do embate sobre a decretação de sua parcialidade num julgamento se suspeição, a esta altura absolutamente demonstrada.

Transformar Moro, o perseguidor, em perseguido, só a ele ajuda.

Moro jamais foi vítima; sempre foi algoz.

E um algoz que vai ser destruído pelo monstro que ele criou, Jair Frankenstein Bolsonaro.