Despejo na pandemia: versão mineira de Bolsonaro, Zema é o mata-quieto. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 14 de agosto de 2020 às 18:04
Crianças desabrigadas em acampamento do MST em MG pela PM de Zema

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, é uma versão de banho tomado de Jair Bolsonaro.

A fala mansa e o estilo faria limer escondem uma incompetência e uma falta de empatia colossais.

A reintegração de posse da área do Acampamento Quilombo Campo Grande, em Campo do Meio, está sendo executada há dois dias.

A PM jogou bombas e ateou fogo no acampamento do MST e ainda fez questão de registrar tudo em vídeos.

As casas e plantações foram destruídas e a Escola Popular Eduardo Galeano, onde crianças, jovens e adultos eram alfabetizados, tratorada.

Tudo isso em plena pandemia.

O local era ocupado há 22 anos.

Cerca de 450 famílias viviam na área da usina falida Ariadnópolis, da Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo (Capia), que encerrou as atividades em 1996.

Ali se produzia o Café Guaií, além do cultivo de milho, feijão, mel, hortaliças, verduras, legumes, galinhas, gado e leite.

A usina é administrada por uma massa falida que deve R$ 406 milhões à União, segundo o deputado Rogério Correia.

Segundo o TJ-MG, a responsabilidade sobre a decisão judicial da reintegração é do juiz de primeira instância que a proferiu.

Mas Kelli Mafort, integrante da direção nacional do MST, vê algo mais.

“Imaginávamos que haveria bom senso das autoridades para retomar, mas em vez disso apareceu a tropa. Consideramos que haveria um processo de negociação”, disse à Ponte.

“É descabido. Só explicações políticas do governo Zema que podem estar por trás”.

Famílias foram alvejadas com bombas no início da tarde desta sexta (14), após mais de 50 horas de resistência contra o despejo – Foto: MST MG

Zema se manifestou no Twitter de forma confusa no dia 12, se contradizendo sobre um pedido de suspensão da operação.

Desde então, calou-se sobre o assunto, fazendo propaganda nas redes de respiradores invasivos e monitores para o Hospital Municipal Senhora Santana.

Sua atitude frente ao coronavírus sempre foi de negação, mas com muito marketing.

Em abril, falou que era necessário que o vírus “viaje um pouco” numa videoconferência com a XP Investimentos na qual avaliava o fechamento do comércio.

“Se nós impedirmos ele totalmente, ele acaba deixando algumas regiões sem estar infectadas, e amanhã nós vamos ter uma onda gigantesca nessa região. Então, o ideal é que ele se propague, mas devagar, e a ausência total de propagação é ruim”, falou.

Com altas consecutivas na curva de novas contaminações e mortes, Minas teve aumento de 33% nos óbitos registrados nesta quarta-feira,12, em comparação com os últimos 15 dias.

São 3 mil novas ocorrências diárias.

A subnotificação e a baixa testagem se revelaram decisivas para o aumento exponencial de registros da doença entre junho e julho.

Para a estrela do Novo, a gestão Bolsonaro, a quem vive elogiando, é “boa”. São do mesmo material, apenas diferentes no perfume.

Pobre MST, pobres mineiros.

Kiko Nogueira
Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.