Ex-senador italiano encabeça abaixo-assinado que exige da Volks reparação por colaborar com a ditadura

Atualizado em 1 de setembro de 2020 às 11:57
O nazismo na história da Volks e Lúcio Bellentani

O abaixo-assinado Caso Volkswagen “Por um lugar de memória dos trabalhadores” é apoiado por dezenas de entidades e personalidades ligadas à luta pelos direitos humanos e à defesa da força laboral.

O documento é encabeçado por José Luiz Del Roio, historiador, presidente do Instituto Astrojildo Pereira e ex-Senador da República Italiana

Entre outros signatários, encontram-se:

Ex-presidentes da Comissão Nacional da Verdade (Rosa Cardoso), Comissão da Verdade do Estado de São Paulo – Rubens Paiva (Adriano Diogo), Comissão da Verdade da Prefeitura de São Paulo (Tereza Lajolo) e Comissão da Verdade do Município de São Bernardo do Campo (José Ferreira), que acompanharam o Caso Volks desde o início, além dos comitês de memória e verdade de todo o país e centros de memória e documentação de trabalhadores.

Outros nomes estão listados abaixo.

“Nós nunca nos reunimos com a Volkswagen. Ela se reúne com o Ministério Público, que se reúne com a gente, então, vai e volta, vai e volta pra fazer um acordo sobre isso. De repente, a Volks parou de tocar na historia do memorial. Ela não quer dar dinheiro pra isso”, diz o coordenador da entidade de Intercâmbio, Informações, Estudos e Pesquisas (IIEP), Sebastião Neto, que foi entrevistado pelo DCM TV na série Dossiê Volks.

O historiador e presidente do Instituto Astrojildo Pereira, José Luis Del Roio, articulador do abaixo-assinado, afirma, por sua vez:

“A Volks se tornou um símbolo porque ela conseguiu ligar a questão da exploração violenta dos seus trabalhadores, operários, assalariados com uma repressão histórica, que era o nazismo. Então, fazia essa ligação infeliz”, sublinha o historiador e presidente do Instituto Astrojildo Pereira, José Luis Del Roio, articulador do abaixo-assinado.

A referência é ao esquema de segurança que existia na Volks durante a ditadura, integrada por quem havia participado do esforço nazista subjugar o mundo e etnias que não fossem a ariana.

Trabalhadores foram entregues a agentes dos porões da ditadura, como o ferramenteiro Lúcio Bellentani, que foi preso e torturado e morreu sem ser indenizado pela empresa nem realizado seu grande sonho: a construção de um memorial para denunciar a colaboração das grandes empresas com o horror da repressão.

Na Argentina, a Ford foi acionada na Justiça por organizações de defesa de direitos humanos. Seus gestores foram condenados, mas a empresa também não cumpriu o dever de reparação.

A multinacional norte-americana resiste a instalar um monumento em frente à sua fábrica pra registrar que houve ali violação dos direitos humanos.

No Dossiê Volks,a historiadora argentina Victoria Basualdo observou que a resistência das grandes empresas a esse acerto de contas com a história não ligada à questão financeira, mas a não admitir sua colaboração com regimes antipopulares e antitrabalhadores.

O MP não admite oficialmente, mas reluta a entrar com ação para evitar que a Volks invoque a lei da anistia para se safar de sua obrigação para com a sociedade brasileira.

Tenta um termo de ajuste de conduta, que só será completo se houver a construção de um memorial.

Seguem os demais assinantes do manifesto:

Cézar Britto – Ex-Presidente do Conselho Federal da OAB

Jorge Luís Souto Maior – professor da Faculdade de Direito da USP

Kenarik Boujikian – desembargadora aposentada do Tribunal de Justiça de São Paulo

Márcio Sotelo Felippe – Advogado

Idibal Piveta – advogado e homem de teatro

Jair Krischke – Presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos

Pinheiro Salles – Ex-presidente da Comissão da Verdade, Memória e Justiça dos Jornalistas de Goiás.

Ricardo Rezende Figueira – padre, antropólogo, professor de Direitos Humanos na Universidade Federal do Rio de Janeiro

Ricardo Antunes – professor titular de sociologia da Unicamp

Lincoln Secco

– Professor de História contemporânea na Universidade de São Paulo

Virgínia Fontes – Historiadora, professora da Pós – graduação da UFF

Maria do Socorro de Abreu Lima – Núcleo de Documentação sobre os movimentos sociais (UFPE)

Marcos Del Roio – prof. titular de Ciências Políticas da UNESP-FFC , membro da Internatiomal Gramsci Society – Brasil

Paulo Fontes – Professor do Instituto de História da UFRJ e coordenador do Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho (LEHMT-UFRJ)

Pedro Campos – Professor de História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e integrante do Grupo de Trabalho Empresariado e ditadura no Brasil

Virgínia Fontes – historiadora, professora da Pós Graduação de História- UFF

Associação dos Juízes pela Democracia (AJD)

Associação Brasileira dos Juristas pela Democracia (ABJD)

Observatório Judaico dos Direitos Humanos no Brasil “Henry Sobel”

Comitê Chico Mendes

Comitê Santo Dias

Centro de Memória do Grande ABC

Instituto Sedes Sapientiae

Centro Paulo Freire

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Artigo atualizado para corrigir a informação de que a Ford teria cumprido dever de reparação na Argentina. Não foi o que aconteceu, conforme observa a historiadora Victoria Basualdo.