O delírio da vez de Jair Bolsonaro é pregar contra a vacina da covid-19.
Nesta semana, em conversa com o gado no cercadinho do Alvorada, ouviu atentamente uma mulher argumentar contra ‘esse negócio’.
“Sou da área da saúde, farmacêutica”, disse. “E com menos de 14 anos ninguém pode colocar uma vacina no mercado”.
Era o gancho que o sujeito precisava.
“Ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina”, devolveu Bolsonaro.
Na sequência, a secretaria de Comunicação do governo dobrou a aposta e divulgou um anúncio oficial destacando a fala do presidente com os dizeres: ‘O governo do Brasil preza pelas liberdades dos brasileiros’.
Em março, em função da ‘pandemia’ decretada pela Organização Mundial da Saúde, o ministério, ainda sob o comando de Luiz Mandetta, publicou a portaria número 356, estabelecendo “medidas para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus (COVID-19)”.
A busca da vacina para a covid-19 estava apenas começando, e o documento oficial trata de outras finalidades, não se atendo à imunização, tampouco sua obrigatoriedade.
O assunto virou um dos mais comentados nesta terça, 1.
Afinal, a vacina, assim que estiver à disposição, será ou não obrigatória?
O deputado e ex-ministro da Saúde de Dilma, Alexandre Padilha, é cético em relação a Bolsonaro.
“Ele é contra vacina não é de hoje”, disse em entrevista ao DCM. “Nunca fez um pronunciamento chamando os pais e mães para se vacinarem e levar seus filhos”.
Padilha lembra que na sua primeira proposta de orçamento, no ano passado, Bolsonaro retirou R$ 800 milhões do Programa Nacional de Vacinação.
“E agora, no orçamento de 2021, retira R$ 35 bilhões da área da saúde, que na prática não garante vacina para ninguém, para quem quer e para quem não quer”.
No final da tarde, Fernando Haddad usou da ironia para tratar da polêmica em sua página no Twitter:
“Bolsonaro congela salário mínimo, reduz à metade auxílio emergencial e deflagra campanha contra vacina inexistente”, disse o petista que disputou o segundo turno contra o presidente em 2018.
Bolsonaro congela salário mínimo, reduz à metade auxílio emergencial e deflagra campanha contra vacina inexistente. Boa noite a todos!
— Fernando Haddad (@Haddad_Fernando) September 1, 2020
Rafael Mafei, professor de Direito da USP, lembrou que o presidente pode estar incorrendo em um novo crime de responsabilidade ao pregar contra a vacinação, já que a Lei 13.979/20 determina que o poder público tem a prerrogativa de determinar a vacinação compulsória em caso de necessidade.
Com quantos crimes de responsabilidade se faz um impeachment? pic.twitter.com/hWNekpwJ9T
— Rafael Mafei (@RMafei) September 1, 2020
O Brasil corre contra o tempo, aguardando uma solução que venha dos laboratórios da China, da Rússia ou do Reino Unido.
Enquanto ela não chega, Bolsonaro segue seu destino, pisando na Constituição, zombando do povo e das instituições.