
Leio uma biografia de Rupert Murdoch para a matéria que escrevi para a Exame sobre o escândalo do falecido tablóide News of the Word, aquele que invadiu caixas postais de celulares de 4000 pessoas e por isso acabou se despedindo abruptamente do mundo no domingo passado aos 168 anos.
No livro há uma passagem sobre o inventor do jornalismo de negócios, Barney Kilgore. Kilgore entrou como repórter ainda garoto no Wall Street Journal, no final dos anos 1920, quando a circulação girava em 30 000 exemplares. Quando saiu, em 1966, depois de chegar a diretor de redação e posteriormente principal executivo, o WSJ tirava mais de 1 milhão de exemplares.
Kilgore criou a seção que ainda hoje é a mais lida do jornal, a “What’s News”, um resumo das coisas mais importantes no mundo dos negócios. E trouxe muitas outras inovações, tanto editoriais como administrativas.
Para Murdoch, atual dono do jornal, o WSJ começou a se apequenar depois de Kilgore.
Mas o que me chamou mesmo a atenção foi outra coisa. Segundo o livro, Kilgore defendia “matérias curtas”, uma das coisas dele que Murdoch aprovava.
Quem trabalhou comigo sabe o quanto me incomoda a discussão sobre se as matérias devem ser longas ou curtas.
Ora.
Elas devem ter o tamanho que merecem, respeitado, é claro, o bom senso. Não estou aqui defendendo desconexas diarréias verbais.
Matéria boa é matéria boa, não importa o tamanho. Bom assunto, boa abordagem, bom texto.
Essa discussão se acentuou com a chegada da internet e seus textos – então – curtos. A mídia escrita, em sua maioria, achou que deveria emular a internet.
Mas aí o que aconteceu foi perda de profundidade. Se você se rege apenas por matérias curtas, está inevitavelmente condenado à superficialidade ou à ignorância enciclopédica.
Faço um paralelo com literatura. Bons romances têm o tamanho que devem ter. Dom Casmurro é curto, Guerra e Paz longo como as estepes russas – e ambos são esplêndidos a despeito do número diferente de páginas.
Mesmo na internet, o amadurecimento dela como mídia tem trazido textos bem melhores e mais longos do que antes. Apenas com textos curtos a internet se condenaria à superficialidade. Seu jornalismo seria irrelevante, desprezado pelos leitores que exigem profundidade – como vocês que me dão a honra de ler o Diário do Centro do Mundo.
Com certeza não foi à base de sumários que Kilgore fez do WSJ o que foi — e ainda, em parte, é.