
O Estadão defendeu em editorial a indústria automobilística em editorial supostamente dedicado a defender os donos de automóveis paralisados dentro de seus veículos em São Paulo.
É natural, o Estadão ainda sobrevive à custa de anúncios classificados de imóveis e veículos. Só não notou que esse casamento já acabou em divórcio.
Não dá mais para intensificar a verticalização e o transporte individual motorizado em São Paulo, porque simplesmente não há mais espaço suficiente para ambos. Quando os moradores descem dos apartamentos e os carros sobem das garagens ninguém chega a lugar algum.
Talvez por isso o conforto seja tão importante na publicidade de carros e imóveis: você vai passar muito tempo dentro deles.
Natalia Garcia do site Cidades para as Pessoas notou isso e publicou uma resposta ao editorial: “20% dos paulistanos se locomove de carro, mas ocupam 80% das vias da cidade.”
Em suma: o congestionamento se dá porque a minoria das pessoas está ocupando a maioria do espaço.
Precisa dizer mais?
O prefeito Fernando Haddad já deve ter notado que a mobilidade urbana vai ser o fiel da balança de sua gestão. Por isso ele vem aumentando os corredores de ônibus e estimulando o uso dos transportes coletivos.
Foi isso que o Estadão criticou. Quem anda de carro paga muito imposto e por isso merece ser mais bem tratado pela Prefeitura, segundo a lógica do jornal. Mas será que no final das contas eles não dão prejuízo, exigindo investimentos públicos cada vez maiores e intermináveis?
Já faz algum tempo que Haddad tem procurado demonstrar a importância da opção pelo transporte público na cidade. Ultimamente ele começou a andar de ônibus na cidade dos helicópteros. Uma boa jogada de marketing, por dois motivos:
1. É boa pra ele.
2. É boa pra nós.
O marketing político é excessivamente utilizado no Brasil. Só que nós pagamos a conta. Não há país no mundo – nem os EUA – em que a propaganda de governo seja tão descaradamente permitida. E o pior: nós não ganhamos nada com ela.
Mas esse caso é diferente. Como uma campanha de vacinação, por exemplo, Haddad está promovendo nossa saúde e bem estar quando posa num ponto de ônibus. Ele está dizendo: “Se você pode andar de ônibus eu também posso”. E todos nós podemos.
Com isso mais gente vai se sentir estimulada a pelo menos experimentar. O sistema é ruim e desconfortável? Sim, mas isso só vai ajudar a melhorá-lo.
Rico é chato e reclama mais. Se eles começarem a reclamar, não mais do trânsito, mas da demora do ônibus no ponto, as empresas de ônibus vão ter que se mexer.
Enquanto transporte, escola e hospitais públicos forem coisa de pobre, São Paulo nunca será um cidade boa para os ricos.