
Carlos Henrique Schroder, diretor-geral da TV Globo, está no centro do escândalo de assédio sexual que a TV Globo tentou abafar, como mostra e-mail que lhe foi enviado por artistas.
Estavam todos indignados pela solução que a casa deu às denúncias de assédio sexual e moral. Ela afastou Marcius Melhem, mas, no comunicado, não faz nenhuma referência ao escândalo de assédio.
Schroder, registre-se, subiu na Globo depois que administrou o caso Miriam Dutra, que foi repórter da emissora em Brasília e tem um filho cuja paternidade ela atribui ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Alguns meses antes de Fernando Henrique assumir a candidatura a presidente, em 1994, ela foi enviada à Europa e nunca mais voltou a trabalhar no Brasil.
Quando insistiu para voltar, a Globo colocou Schroder para tomar conta dela, como me disse a própria Miriam Dutra. “E ele passou a ensaboar a mulata”, contou.
Miriam recebia cerca de 5 mil euros por mês para não fazer nada em Barcelona. E queria, mas suas pautas eram rotineiramente rejeitadas.
Quando a Globo reduziu seu salário para 3 mil euros, no início dos anos 2000, Fernando Henrique foi informado, através do cunhado de Miriam (já falecido).
E um concessionário do governo federal, Jonas Barcellos, assumiu o ônus, assinando um contrato que, segundo Miriam, era de fachada, para lhe repassar 3 mil dólares mensais.
Quando a Globo encerrou o contrato com Miriam, em 2016, ela deu entrevista a uma revista da Espanha, que repercutiu no Brasil.
Contou muito do que viveu, e depois recuou, quando uma equipe que organiza a cobertura da Fórmula 1 para a Globo a procurou em Madri.
Hoje, não fala mais sobre o caso. Nas entrevistas que fiz, ela disse ficou hospedada na casa de Schroder no Rio de Janeiro algumas vezes.
E Schroder volta a ser notícia por, usando a linguagem de Miriam Dutra, ensaboar outras mulatas e mulatos da Globo.
“Ensaboa a mulata, ensaboa…”, já dizia o Cartola.
Segue o e-mail enviado a Schroder. O diretor-geral da Globo, segundo a revista Piauí, não quis falar do “caso concreto”.
Caro sr. Carlos Henrique Schroder,
Diante dos acontecimentos desta sexta-feira, 14 de agosto de 2020, quando a Globo emitiu comunicado oficial sobre a saída de Marcius Melhem da empresa, nós decidimos escrever esta carta. Nossa intenção é comunicar ao senhor, com a urgência que o assunto merece, nossa profunda insatisfação e indignação com a solução dada ao caso que envolve diversas denúncias de assédio sexual e moral contra Marcius Melhem.
O que muitos funcionários da TV Globo passaram durante a gestão de Marcius Melhem como chefe do Departamento de Humor deixou danos imensuráveis. A empresa tem hoje em seus quadros empregados – entre técnicos, câmeras, diretores, autores e atores, em sua maioria mulheres – sofrendo transtornos psicológicos, boa parte deles passando por tratamento médico, tentando se recuperar dos traumas. São vítimas de um ambiente de trabalho tóxico e perverso, no qual o simples ato de passar o crachá na catraca da portaria desencadeia medo, crises de ansiedade e de pânico.
É do nosso interesse proteger a imagem da emissora como a empresa correta e idônea que a TV Globo se propõe a ser. Nós acreditamos na sua intenção de promover um ambiente de trabalho que não tolera nenhum tipo de violência ou de assédio. Estávamos otimistas ao observar que passos largos foram dados na direção da resolução de casos de assédio moral e sexual dentro da emissora, especialmente por meio do sistema de compliance, que foi utilizado para a investigação das denúncias contra Marcius Melhem. Avaliamos que o seu afastamento foi uma decisão necessária e acertada.
Acreditamos, contudo, que a forma como a saída de Marcius Melhem foi formalmente comunicada ao público é não apenas ofensiva a todas as suas vítimas, mas também um lamentável recuo diante dos tempos em que vivemos. Os funcionários vítimas de violência desse caso têm sido submetidos nos últimos meses a ainda mais violência com o silenciamento oficial que vem sendo praticado, definitivamente sedimentado na tarde desta sexta-feira. Ressaltamos que em nenhum momento nos foi informado oficialmente qual foi o desfecho do caso. Não entendemos o silêncio da empresa nos meses subsequentes à investigação e agora entendemos menos ainda a defesa pública de Marcius Melhem […]. O comportamento de Marcius Melhem consistia em abusar da sua posição de chefe para constranger suas funcionárias sexualmente e para expor seus funcionários a situações humilhantes e degradantes.[…] Não é admissível, tendo em vista a qualidade dos envolvidos e a magnitude das denúncias, que este caso seja resolvido silenciosa e nebulosamente […].
O texto não foi enviado. Nem todos do grupo concordavam com uma carta tão assertiva, com tom de cobrança tão peremptório. Uma outra versão, mais curta e mais branda, acabou sendo enviada três dias depois, em 17 de agosto. Não mencionava o nome de Melhem. Começava anunciando que a carta era motivada pelos “recentes acontecimentos no núcleo de humor”, dizia que a intenção era “criar um ambiente de trabalho saudável, transparente e digno para todas e todos” e informava que “muitos sofrem diariamente e precisam de apoio para debater junto à empresa novas medidas e mecanismos que garantam um ambiente de trabalho onde haja respeito e segurança”. Por fim, pedia uma reunião com Schroder. “Devido à urgência do assunto que afeta a todos nós, vítimas e apoiadores que assinam essa carta, gostaríamos de propor uma reunião com representantes desse grupo o quanto antes, se possível ainda esta semana (17 a 22 de agosto).”
O e-mail foi remetido pela conta do humorista Marcelo Adnet, ex-marido de Calabresa, com cópia para a advogada Mayra Cotta. Estava assinado por trinta atores, roteiristas e diretores. As mulheres pediram para não ter seus nomes citados. No total, havia também nove homens: Antonio Prata, Eduardo Sterblitch, João Gomez, João Vicente de Castro, Maurício Farias, Mauro Farias, Matheus Malafaia, Vicente Barcellos e o próprio Adnet. Schroder respondeu para Adnet, sem cópia para a advogada. Disse que o DAA se reuniria com os denunciantes.
O e-mail foi enviado pela conta de Marcelo Adnet, ex-marido de Calabresa. Estava assinado por trinta atores, roteiristas e diretores. As mulheres pediram à revista Piauí para não ter seus nomes citados. No total, havia também nove homens: Antonio Prata, Eduardo Sterblitch, João Gomez, João Vicente de Castro, Maurício Farias, Mauro Farias, Matheus Malafaia, Vicente Barcellos e o próprio Adnet.
Na resposta a Adnet, que um departamento da emissora se reuniria com os denunciantes. E ficou tudo por isso mesmo.