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Vladimir Netto é presença assídua nos diálogos da Lava Jato que vieram à luz.
Ele aparece ajudando Deltan Dallagnol a redigir uma nota sobre a condução coercitiva de Lula — e depois leu-a no Jornal Nacional, onde era o “setorista” da operação.
Dallagnol lhe disse que “ficou boa parte do começo, mas com base em seu olhar tiramos 2 itens inteiros”.
“Fico feliz em ajudar”, respondeu o outro. “Já soltaram a nota? Ainda dá tempo de sair no JN”.
A parceria era fora do Telegram. Vladimir “entrevistou” DD na feira literária de Poços de Caldas em 2017, quando este lançou “A Luta contra a Corrupção” (vídeo no pé deste artigo).
Na leva de conversas liberada por Lewandowski à defesa de Lula e cujo sigilo foi levantado, Deltan informa estar revisando seu livro.
Vladimir enviou email ao DCM, negando que “reconheça” os diálogos e apontando incongruência de datas (leia abaixo).
O filho de Míriam Leitão, vamos lembrar, é autor da hagiografia “Lava Jato – O juiz Sergio Moro e os bastidores da operação que abalou o Brasil”, que vendeu mais de 200 mil exemplares.
O personagem principal, o ex-juiz, esteve no lançamento na capital do Paraná e posou para as câmeras com Vladimir e a mãe.
No livro, Vladimir se encanta como Moro exibe “rigor e coragem”, conduz tudo “com maestria”, “trabalha com afinco em busca de resultados”, é “um excelente pai”, “trocava fraldas, acordava à noite quando a bebê chorava e cuidava do umbigo da menina.”
É uma proximidade indefensável entre jornalista e fonte e vai contra as regras da própria casa.
O repórter esportivo Mauro Naves, por exemplo, foi demitido por causa de suas ligações com o advogado da modelo que acusou Neymar de estupro.
“Me pegou de surpresa [a demissão]. Eu esperava conseguir um furo. Eu tinha uma fonte e ela me daria a notícia quando acontecesse”, alegou Naves.
William Bonner deu a notícia com a costumeira canastrice.
“Mauro Naves é um profissional excelente, com grandes contribuições ao jornalismo esportivo da Globo. Mas há evidências de que as atitudes dele neste caso contrariaram a expectativa da empresa sobre a conduta de seus jornalistas”, afirmou o apresentador.
A expectativa da emissora em relação a Vladimir Netto, pelo visto, é outra, absolutamente divorciada do ofício de informar seu público com honestidade.
Se a Justiça mostra que há dois pesos e duas medidas com Lula, por que os Marinhos deveriam tratar seus empregados com equanimidade?
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LEIA A NOTA ENVIADA POR VLADIMIR NETTO AO DCM:
A serem verdadeiros os diálogos, a leitura da íntegra do material divulgado pelo Supremo Tribunal Federal mostra claramente que a data em que a conversa teria ocorrido é 31 de março de 2017 e 2 de abril de 2017. Meu livro foi lançado em maio de 2016, não poderia estar sendo revisado quase um ano depois de publicado.

https://www.youtube.com/watch?v=1tOvHbnOCHQ