Sobre CBF e Portuguesa: o futebol brasileiro precisa de uns rolezinhos em seus corredores

Atualizado em 27 de outubro de 2014 às 11:41
Del Nero e o padrinho Marin
Del Nero e o padrinho Marin

 

A tentativa de suborno da CBF, ao propor à Portuguesa que desista de buscar judicialmente a vaga na Série A do Brasileiro em troca de um adiantamento de 4 milhões de reais, é um descalabro e uma piada em vários sentidos.

Ao colocar uma cláusula desse tipo num contrato, existe uma espécie de admissão de que é um procedimento normal. E é, para eles. Qual o problema? Topou, topou. Afinal, o presidente da Federação Paulista, Marco Polo del Nero, já havia recebido o presidente da Lusa, Ilídio Lico, para tratar de negócios. “Isso é uma minuta de contrato. O clube lê, se não aprovar rebate”, disse.

Lico está esbravejando contra a CBF, mas não foi sempre assim. No dia 7 de janeiro, ele declarou ao portal Terra: “Eu fui à Federação para ver se conseguia que me ajudassem financeiramente. Também estava lá o presidente José Maria Marin, um homem que nos atende muito bem, um homem fabuloso”.

Fabuloso?

Com o vazamento do documento, mudou o tom. “Fiquei revoltado com a proposta feita pela CBF. Eu tenho que abrir o jogo, o contrato é indecente. Eu ainda tenho que devolver o dinheiro em 2015″.

Ele narrou a história: “Pedimos para nos ajudar. Ele [Del Nero] falou: ‘Vou te arrumar R$ 4 milhões’. Fiquei feliz, né? Ele falou: ‘Vou te mandar o contrato’ e chegou esse contrato. Seria um empréstimo, mas a gente não esperava as cláusulas que vieram”.

A Lusa estaria devendo mais de 120 milhões de reais. O STJD avisa que vai “cobrar a CBF” pela chantagem. A Lusa, em nota oficial, diz que irá apresentar o contrato ao Ministério Público “oportunamente para que este, ciente da questão, tome as devidas providências”.

Marco Polo Del Nero foi reeleito presidente da FPF na segunda-feira (20). Era o único concorrente ao cargo. É apontado como o candidato de Marin para a sucessão da CBF. Está à frente da entidade desde agosto de 2003, após a renúncia de Eduardo José Farah, que a comandou por 15 anos. Se cumprir o mandato, Del Nero ficará o mesmo tempo. São cargos vitalícios, em que o sujeito só sai quando está chafurdando completamente na lama, só com a cabeça de fora.

O futebol brasileiro precisa de uns rolezinhos em seus corredores escuros para assustar esse pessoal. Urgentemente.

 

Ilídio Lico, presidente da Lusa
Ilídio Lico, presidente da Lusa

 

Kiko Nogueira
Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.